quarta-feira, 25 de maio de 2011

OS PORTUGUESES, UM POVO SUICIDA

Não é difícil compreender o que falta para que os portugueses voltem a ser um povo alegre e combativo. Ao contrário da maioria, não acredito que a tristeza é parte do seu carácter, mas sim uma manifestação da doença que os atingiu após a perda do sentido de missão nos últimos séculos. Enquanto andarem perdidos, ou melhor, a buscar na imitação de povos imbecilizados a solução para os seus problemas, continuarão assim, a definhar lentamente. Porém, há forma de os levar novamente à vida, e pobres dos seus inimigos, especialmente os internos, quando isso acontecer...
A brandura, a meiguice portuguesa, está só à superfície; raspai-a e encontrareis uma violência plebeia que chegará a meter-vos medo. Oliveira Martins conhecia bem os seus compatriotas. A brandura é uma máscara. a linguagem da imprensa ultrapassa aqui em violência tudo o que de mais violento se escreva em Espanha. Lá nunca se poderiam ter escrito páginas como as que Fialho de Almeida dedicou n'Os Gatos à morte do Rei Dom Luís e à proclamação de Dom Carlos, aquele que depois foi morto por Buiça. E, na literatura, os nossos mais fogosos escritores têm de ceder em força aos de aqui. Este povo não é só sentimental mas também apaixonado, ou melhor, mais apaixonado do que sentimental. A paixão o traz à vida e a mesma paixão, consumida a sua chama, o leva à morte. Hoje, que lhe resta?
Miguel de Unamuno

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