domingo, 16 de agosto de 2009

O INTRUSO
O prazer impõe a franqueza; sempre achei. Aquela pessoa era má pessoa – mas eu diverti-me muito com ela. Fiquei a gostar dela. E daí? Não há ninguém que consiga desconvencer-me.
Moscovo é uma cidade horrível, mas, enquanto lá estive, só me apetecia cantar. E por aí a fora. O critério hedonista é mais profundo do que se pensa: se nos soube bem, é porque tem alguma coisa que não pode ser inteiramente má. E é boa, se calhar. Até porque calhou.
A façanha dos bloguistas insubmissos do 31 da Armada ainda hoje me faz sorrir. Só o protocolo da devolução e do intercâmbio das bandeiras (trocar uma bandeira do Boavista Futebol Clube, que representa Lisboa com “paixão ao quadrado”, por uma bandeira que já representou Portugal inteiro) é o suficiente para me oferecer um episódio perdido do Monty Python.
Bem sei que ainda não há muitos monárquicos – foi a revolução republicana que os criou. Mas a verdade é que já há mais do que havia. Ser monárquico não significa acreditar num monarca: significa acreditar no Parlamento e no povo que o elege. Os monárquicos não querem acrescentar nada: só querem restituir ao Parlamento eleito os plenos poderes que merece e de que precisa. Os Presidentes da República é que são reizinhos temporários, instados a interferir pifiamente.
Os monárquicos são os parlamentaristas. São pelos partidos. Defendem as divisões. É essa a parte que leva tempo a perceber. O Presidente da República é que é o intruso.
Miguel Esteves Cardoso - Jornal Público. 14.08.09


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Noutro Continente, aqui: http://www.causaimperial.org.br/noticias/245.html a situação está idêntica à nossa! E já agora aconselho também este blogue: http://monarquia-ja.blogspot.com/
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República, Monarquia e ignorância
E como é que era dantes?
Bom, dantes a monarquia em 1908 era um regime constitucional. Tinha uma Constituição, a velhinha Carta de mais de oitenta anos, um Parlamento com duas câmaras, eleições nacionais para a câmara baixa, deputados republicanos desde 1878, eleições municipais que foram ganhas pelo Partido Republicano no Porto em 1906 e em Lisboa em 1908 e, regra geral, a salvaguarda dos direitos, liberdades e garantias reconhecidos na maioria das monarquias constitucionais contemporâneas, como por exemplo a Inglaterra. Havia censura, que era usada sem grande êxito para impedir ataques ao regime monárquico e ao catolicismo oficial, e durante alguns meses João Franco governou sem o Parlamento, "ditadura" a que um apavorado D. Manuel II pôs termo assim que cingiu a coroa. O chefe de Estado não era obviamente eleito, como não é hoje no Reino Unido, na Holanda, na Bélgica, na Dinamarca, na Noruega, na Suécia, em Espanha, no Canadá e na Austrália, essas tiranias onde os gays e o aborto são reprimidos.
Estranhamente, a I República não alterou muito isto. O chefe de Estado era agora eleito, mas pelos deputados. Nada de sufrágio directo para a Presidência. Era o que faltava, entregar à malta a eleição do mais alto magistrado da nação... O direito de voto, que na monarquia chegou a abranger um universo de 950 mil eleitores, mesmo com a restrição censitária, foi reduzido em 1911 a 400 mil eleitores, os chefes de família que fossem civis e soubessem ler e escrever. Por outras palavras, foi negado aos militares, aos analfabetos e às mulheres.

Pedro Picoito, Cachimbo de Magritte-http://cachimbodemagritte.blogspot.com/

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