quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

CARTA DO CANADÁ

Senti vergonha. Não de ser portuguesa, pelo contrário, que tenho um profundo orgulho em ser portuguesa, mas vergonha, sim, muita vergonha de o meu Portugal ter governantes capazes de aconselharem os desempregados a saírem do país. Devo ter sentido o mesmo que a cientista Irene Fonseca: até pediu que a jornalista lhe repetisse a pergunta com este assunto, nem queria acreditar. Senti vergonha por o Brasil e Angola terem dito claramente que não precisam de professores portugueses, por terem os seus próprios, numa verdadeira bofetada a quem deita pela boca fora tudo o que lhe apetece.
Também senti desgosto por mais esta afronta aos cidadãos de um país mal governado, injusto e corrupto, que tiveram de optar por ganhar no estrangeiro o pão para a família. Opção dolorosa, mas livre. Nem na ditadura salazarista os governantes tiveram semelhante ousadia e má criação. Talvez seja por esta falta de maneiras que alguns por aí chamam a Outra Senhora ao regime deposto pelos militares em 1974, e Esta Gaja ao regime vigente. Opção livre e dolorosa,repito. Quem emigra sai de coração partido, sabe que não tem lugar na Pátria, que é um rejeitado porque uma camarilha política tomou o poder e abocanha a terra, dividindo-a por familória e parceiros de partido. O emigrante leva consigo, até ao último suspiro, a dor desta rejeição. Não perde o amor por Portugal, mas não tem o menor orgulho em quem governa. Não tem motivos para isso. Mesmo longe, continua a ser explorado, a não ser convidado a participar no desenvolvimento do país. Tudo quanto os políticos lhe pedem é votos e dinheiro. Muito dinheiro. Como foram investidos os biliões que, nos últimos 50 anos, os emigrantes depositaram em bancos portugueses? Não sabem. Apenas sabem, pelos jornais, das fraudes de largos milhões feitas em bancos por sujeitos que não foram julgados, andam a viver dos rendimentos, perante o silêncio do partido do governo e o do presidente que é do mesmo partido, e o de uma magistratura a que ninguém cá por fora dá crédito. Admiram-se de ser de quase 100 por cento a abstenção entre os emigrantes?
Portugal está a caminho de perder a Emigração e a difusão da língua portuguesa por exclusiva culpa da partidocracia que levou Portugal à valeta: estúpida, ignorante, boçal, gananciosa, pimba.
Mas eu acredito que o povo português saberá correr com esta élite negativa que conseguiu pôr a Pátria a receber ordens duns funcionários estrangeiros. Nem que para isso seja preciso transformar as pedras em pão.
Fernanda Leitão
Lusitana Antiga Liberdade

1 comentário:

Al Cardoso disse...

Tambem eu que resido pelo estrangeiro ha mais de 30 anos, assim penso, e bem poderia ter escrito uma carta assim!
Mas a realidade da falta de trabalhos em Portugal devia aconselhar a fazer o que os ministros aconselharam.
No entanto nunca deviam ser palavras proferidas por quem governa um pais!