sábado, 24 de abril de 2010

FILIPA VACONDEUS EM ENTREVISTA AO MONÁRQUICOS NORTENHOS
Maria Filipa Carneiro de Mendonça Côrte-Real Vacondeus tem sido, ao longo deste últimos 30 anos, uma figura muito querida de todos os Portugueses. Monárquica assumida e apaixonada pela arte equestre, Filipa Vacondeus tem dedicado muito do seu tempo à preservação de um património que, muitas vezes nos passa despercebido nessa categoria, a Gastronomia Nacional. Desde dos programas televisivos em que participa aos seus famosos livros de culinária, Filipa Vacondeus tornou-se uma figura indissociável da Gastronomia Nacional nestes últimos anos.
A.B.P.(António Baião Pinto). Podemos começar por recordar um pouco da sua infância e a forma como esta veio a influenciar a sua carreira no mundo da Gastronomia Nacional.
M.F.V. (Maria Filipa Vacondeus)– A minha infância e juventude foram fantásticas já que, nascida de uma família tradicional, monárquica e católica, me deu uma educação que me orientou toda a vida e me honra muito ao chegar a esta idade, nunca me ter afastado dela. Os meus Pais procuraram dar-me uma educação que me soubesse fazer cumprir e compreender os valores e os princípios que eles defendiam e muito cedo, pelo menos uma vez por ano dar férias à minha Mãe e ser eu a governar a casa com todas as responsabilidades. Nessa altura, alguns membros da Família Real eram visitas constantes da nossa casa, desde A Senhora Infanta Dona Maria Adelaide com os seus filhos, a Infanta Dona Mariana, casada com o Príncipe de Turn und Táxis com os Filhos, o Príncipe João e a Princesa Mafalda, a Senhora Infanta Dona Filipa, a Senhora Infanta Dona Maria Antónia e até passar todos os fins de semana O Senhor Dom Duarte e os Infantes Senhor Dom Miguel e Senhor Dom Henrique. Foi, realmente uma época fantástica, com uma intimidade tão respeitosa, que nunca o meu Pai permitiu que fossem fotografadas. Só que o meu Pai morreu muito cedo e houve muita coisa que infelizmente se alterou. Ora é fácil compreender que com tantos jantares e almoços ao estar eu à frente da organização da casa e ter de dirigir uma cozinha difícil, sobretudo se pensarmos que comecei a fazer isto apenas com 9 anos de idade, o que me deu, desde muito nova, muita curiosidade e bastante à-vontade nesta área, só que nunca pensei que um dia iria ser conhecida, por graça, como a senhora dos restinhos.Tive um restaurante de luxo, antes da “odiosa data” que fechou por estar conotada com todos os fascistas e que mesmo assim durou até Abril de 1975, que foi um enorme êxito, e considerado um dos melhores ou o melhor restaurante de luxo de Lisboa.
A.B.P. Sei que é apaixonada pela a Arte Equestre, chegou a praticar esta modalidade na sua juventude?
M.F.V. – Chegamos a ter 3 cavalos, um para cada um (Pai, Irmão e eu) e uma parelha de éguas para puxar alguns trens que, durante a guerra, nos permitiam andar de um lugar para o outro. Pratiquei bastante esta modalidade, tirei carta de cocheiro e chegamos a vir para o colégio a cavalo, atravessando nos ferryboats e indo até às Amoreiras onde era o picadeiro do José Mota, para deixar os cavalos. Algo que nos dias de hoje seria impossível!!!
A.B.P. Estou certo de que a figura do seu Pai a marcou profundamente, como já afirmou algumas vezes, pensa que ele a influenciou, por exemplo no facto de ser monárquica?
M.F.V. – Não tenho a menor dúvida que foi o meu Pai o grande educador das vantagens da monarquia, ele era, se assim se pode dizer, um monárquico dos quatro costados. Dizia, com muita graça, (ele nasceu em 1908), que a república era uma senhora que ele não conhecia porque nunca ninguém lha tinha apresentado. Foi um homem que procurou sempre servir sem ser servido e deu o melhor de si por esta Família e teria sido muito feliz se tivesse conhecido a Senhora Dona Isabel e os Infantes.
A.B.P. Na sua opinião uma eventual mudança de regime, neste caso para uma Monarquia seria uma vantagem para os Portugueses?
M.F.V. – Disso não tenho quaisquer dúvidas, quem estiver atento e não seja fanático verá que todas as monarquias europeias têm uma outra forma de governar os seus países, bem mais pacífica.Para nós portugueses, seria a salvação. Estes políticos saídos da revolução, tirando alguns, já fora destas lides pela idade, são completamente impreparados, sem qualquer noção dos princípios que nos devem reger, corruptos, todos com o rabo preso e até a justiça que deveria ser o nosso garante está completamente vendida aos políticos. Uma vergonha.
A.B.P. Ouve-se muitas vezes falar em Portugal como uma Democracia amadurecida e bem estruturada, qual é a sua opinião?
M.F.V. – Julgo que respondi tudo na pergunta anterior mas, para mim que já sou velha, isto que vivemos actualmente é uma república das bananas e a democracia do Sócrates pode, se não nos acautelarmos, transformar-se numa ditadura. Numa entrevista ao Semanário Sol vinha eu a dizer isto, na primeira página, sem medo, numa entrevista que me fizeram no Verão passado.
A.B.P. Considera que uma chefia de estado independente, unicamente proporcionada pelo Regime Monárquico, é uma vantagem para a Democracia em si.
M.F.V. - Claro que sim, olhemos para as Monarquias que nos rodeiam e, até em gastos, talvez excluindo a Inglaterra, vemos a diferença.
A.B.P. Mudando um pouco o assunto, agora mais para a sua área, considerando que a Gastronomia Nacional é sem dúvida parte integrante da nossa cultura, pensa este património está bem estimado e preservado?
M.F.V. – Já várias vezes tenho abordado este assunto, porque considero que entre muitas outras coisas, a Gastronomia faz parte da nossa identidade. Considero que a cozinha não é estática, que tem de evoluir mas que deve preservar os nossos aromas, o nosso paladar e apoiar os nossos pratos tradicionais e os nossos produtos regionais na sua autenticidade.Eu julgo que se está a lutar para que isto aconteça e eu, por mim, continuarei a lutar.
A.B.P. De que modo é que essa preservação, e consequente divulgação pode ser uma mais-valia para o País?
M.F.V. – É haver a obrigação de em todos os restaurantes haver, pelo menos um prato, que respeite as nossas tradições. É, tal como eu faço, apresentar receitas nossas em programas de televisão, em revistas e em entrevistas, dizendo o que digo aqui, sem medo de serem alcunhados de retrógrados.Já tenho sido confrontada por alguns estrangeiros, que ao voltarem a visitar-nos, se me queixam de ao voltarem a alguns restaurantes por eles visitados e onde comiam muito bem da nossa comida, encontrarem agora uma cozinha que se come em todo o mundo e completamente incaracterística. Eles lá sabem.

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