quarta-feira, 21 de abril de 2010

ACTUALIDADE DA HISTÓRIA, CRISTINA ROBALO CORDEIRO
Há uns dias, numa Tertúlia do Casino de Figueira da Foz, o Duque de Bragança colocava a questão do ensino da história denunciando as deformações às quais ela se vê submetida pela ideologia dominante, senão mesmo pelo regime vigente. É fácil dar-lhe razão. Churchill, com um misto de bonomia e de cinismo próprios ao humor britânico,não temia prever que a história lhe fosse favorável, pois que seria escrita por si nas suas Memórias. A ideia de uma “ciência da história” provoca tantas reservas que mais valeria reconduzir primeiro a história (quando ela é bem escrita) à literatura, ou seja, ao imaginário, para mostrar de seguida em que condições se poderia aproximar de um conhecimento objectivo. Quanto à nocividade política da história, trata-se de um facto mais rapidamente demonstrado do que a bondade das lições que dela se podem extrair. Quem não conhece a fórmula de Valéry: “A história é o produto mais perigoso que a química do intelecto produziu”? Basta examinarmos o conteúdo dos programas escolares em países como o Irão para nos lembrarmos de que a história é uma arma, cuja primeira vítima é a juventude juventude do próprio país e a segunda a juventude do país vizinho. Pois que a história cria a guerra ou, pelo menos, o espírito de guerra. Mas a crítica feita pelo nosso pretendente ao Trono à história tal como ela é exposta nos manuais reside, ao invés, no facto de não dedicar suficiente lugar e valor à ideia nacional. A seu ver, os historiadores ou, em todo o caso, os professores de história deveriam ensinar-nos a amar o nosso País e a dele nos orgulharmos. Grande e séria questão. Passámos sem dúvida de um excesso a outro, de uma história cronológica e explicitamente ideologizada, como a que era ensinada nos manuais inspirados pelo salazarismo, à história asséptica e temática de hoje. Tudo seria mais claro se a história escolar estivesse explicitamente ligada à instrução cívica e moral dos alunos. É certo que poderemos perguntar-nos se o objectivo é hoje formar jovens portugueses ou jovens europeus. Aliás, as tarefas poderiam ser repartidas: o ensino primário encarregar- se-ia de acordar a consciência nacional, o secundário a consciência europeia. Quanto ao ensino superior, cabe-lhe, defi nitivamente, desmistifiar os espíritos.

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