quarta-feira, 13 de julho de 2011

CAMÕES PODERÁ NÃO ESTAR SEPULTADO NOS JERÓNIMOS

Vítor Aguiar e Silva explicou à Lusa que, “com grande probabilidade, as ossadas guardadas no mausoléu dos Jerónimos “não são de Camões”.
O poeta terá sido sepultado na Igreja de Sant’Ana, em Lisboa, próxima da casa onde vivia a sua mãe, na calçada de Santana, mas “não se sabe exatamente onde foi colocado o cadáver, se dentro, se fora da igreja ou se até numa fossa”, sublinhou Aguiar e Silva.
Supõe-se que teria ficado sepultado do lado esquerdo da entrada principal da igreja e, anos mais tarde, D. Gonçalo Coutinho mandou colocar no local uma lápide de mármore em que refere Camões como “Príncipe dos Poetas do seu tempo”, que faleceu em 1579.
Vítor Aguiar e Silva afirmou que “a memória falha”, o que justifica o engano no epitáfio do poeta, dando antes crédito ao documento da chancelaria de Filipe I (II de Espanha) que atribui uma tença à mãe de Camões e afirma que este morreu a 10 de Junho de 1580.
No entanto, desde o sepultamento, em 1580, à trasladação, três séculos depois, deu-se o terramoto de 1755, que destruiu muito a igreja, que foi ainda alvo, posteriormente, de obras para a construção de um coro alto.
Para Aguiar e Silva, “no estreito rigor histórico” ninguém sabe ao certo onde estão os restos mortais de Camões e “há as maiores dúvidas” que se encontrem na arca tumular nos Jerónimos, de autoria de Costa Mota Pio, onde invariavelmente Chefes de Estado e estadistas cerimoniosamente colocam coroas de flores quando visitam Portugal.
Os restos mortais do autor de “Os Lusíadas” foram transladados em 1880 para o Mosteiro dos Jerónimos, numa altura de exaltação patriótica a que não foi alheia a propaganda republicana que já se fazia sentir.
Uma comissão foi constituída e encarregada por Rodrigo da Fonseca, então ministro do Reino, de encontrar as ossadas do lírico e lhe dar sepultura digna, o que veio a acontecer no tricentenário da sua morte (1880).
Todavia, como alerta Aguiar e Silva, “até a própria comissão tem dúvidas da autenticidade do que trasladou”.
No relatório da comissão pode ler-se, referindo os trabalhos de escavação empreendidos em 1858, que “a uma certa altura [viram-se] ossos em fórma que se lhe não tinha mexido. Alguns d'estes eram pois sem duvida os de Luiz de Camões; mas quaes, se nem era possivel distinguir a sepultura”.
A comissão procurava a pedra de mármore mandada colocar por D. Gonçalo Coutinho, que não encontrou. Resultado, aliás, análogo a buscas anteriores, em 1836, que não chegaram a qualquer conclusão quanto às ossadas de Camões.
Para o camonista Aguiar e Silva, esta incerteza não retira o “valor simbólico” que tem o túmulo nos Jerónimos e até sublinha que “é bom que tenha!”.
O estudioso da obra de Camões, afirma que ler “Os Lusíadas”, obra maior do lírico, “é fundamental para entendermos aquilo que fomos e o que somos”, logo que caminhos escolher para o futuro.
“‘Os Lusíadas’ são um texto fundamental para a compreensão de Portugal” quando “lidos na sua grandeza e profundidade”, atestou o camonista.

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