À entrada do Clube Militar somos recebidos por Luíz de Oliveira Dias, representante de Dom Duarte Pio, Duque de Bragança, em Macau. «O Senhor Dom Duarte ainda não chegou, mas está quase a chegar», avisa de pronto. De facto, poucos minutos depois, chega o pretendente à Coroa Portuguesa, que logo se mostra disponível para a entrevista previamente marcada, com a condição de não «roubarmos» muito tempo ao convidado de honra do jantar que naquela agremiação irá ter lugar. Estão inscritas 61 pessoas, a maioria simpatizantes da causa monárquica. Por mais de uma ocasião tentamos iniciar a curta entrevista, mas a enorme e legítima vontade dos presentes em cumprimentarem e trocarem algumas palavras com «o rei» faz atrasar um pouco a conversa, que começa em «media res», pois que antes de ligarmos o gravador já Dom Duarte nos disse o que veio fazer a Macau e o porquê, de seguida, voltar a Timor, país do qual é cidadão nacional desde o ano passado.
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O CLARIM – Senhor Dom Duarte, trago à lapela as armas do antigo Leal Senado de Macau. Tem a conhecida inscrição «Não há outra mais leal» – menção ao facto de Macau nunca ter reconhecido a Dinastia dos Filipes. Sente que a Comunidade Portuguesa continua leal a Portugal e até, de certa forma, à Casa Real Portuguesa?
DOM DUARTE PIO – Vejo em todas as famílias macaenses uma ligação muito profunda a Portugal e em muitas delas uma forte ligação à Casa Real. Infelizmente muitas famílias macaenses abandonaram a cidade; foram para o Canadá e para outros países e lugares. O papel das famílias macaenses e dos portugueses em Macau pode ser fundamental para tornar mais profícua as ligações de amizade entre Portugal e a China, nomeadamente no campo económico.
CL – Disse há pouco que está em Macau para participar na MIF, a convite de um grupo de empresários...
D. D.P. – Vim a convite da Associação de Jovens Empresários Portugal-China...
CL – Até porque a Casa Real pode, à sua maneira, contribuir para o incremento das relações económicas entre Portugal e o resto do mundo!?
D. D.P. – Em primeiro lugar é importante as pessoas pensarem por que estão em crise. Deve-se muito ao próprio sistema republicano de chefia de Estado, em que os presidentes estão ligados ao sistema partidário e têm muita dificuldade em fazer aquilo que os reis costumam fazer na Europa: quando vêem que um Governo está a disparatar, vão tentando exercer influência para o levar para o bom caminho, fazendo ver os problemas. Quando perguntaram à Rainha da Dinamarca para que servia a rainha, respondeu que serve para proteger o povo dos maus Governos. Efectivamente é esse o papel dos reis na Europa – para além de dar bons exemplos, exercer uma boa influência sobre os países, servir de unidade nacional, etc. Veja, por exemplo, como os ingleses, os dinamarqueses e os suecos comemoram os acontecimentos reais. Nos 60 anos do Rei da Suécia havia um milhão de pessoas no largo em frente ao palácio real a festejar.
CL – Que balanço faz dos 103 anos da República Portuguesa?
D. D.P. – Os primeiros dezasseis anos da República foram de uma violência incrível – muitas mortes, perseguições a toda a gente que não estava ao lado do Partido Republicano, uma grande perseguição à Igreja e aos católicos, igrejas roubadas, casas paroquiais roubadas. A 2ª República, que durou quarenta e tal anos, recuperou a economia, recuperou a dignidade nacional, mas não foi capaz de criar um sistema político viável. O sistema político estabelecido pelo professor Salazar não era viável no mundo de hoje e mesmo já naquela época. Ao contrário de Franco, que organizou o regresso da Monarquia, Salazar nunca se decidiu. Depois, a 2ª revolução republicana foi desastrosa. As pessoas ainda acham que merece fazer um feriado no 25 de Abril e, no entanto, quais foram as consequências!? Centenas de milhares de mortos em África – em Timor então foram 200 mil mortos, – a economia portuguesa recuou dez anos e, provavelmente, a questão de Macau não foi bem resolvida. Estou até convencido que o Primeiro-Ministro Deng Xiaoping tinha uma outra alternativa de transição muito mais interessante. A 3ª República, ao fim destes anos, gastou todo o dinheiro que recebeu e colocou outra vez o País na bancarrota. Três Repúblicas que falharam. As pessoas deviam começar a pensar se não será culpa do sistema republicano.
CL – Qual a solução?
D. D.P. – O Estado tem de ser mais económico. Não se pode gastar 50 por cento dos recursos nacionais, nem se pode gastar 80 por cento do Orçamento do Estado para pagar a funcionários públicos. Tem de se criar um sistema em que o Estado seja baratinho a manter, e que as empresas portuguesas e as pessoas que trabalham possam receber aquilo que merecem e possam ser competitivas a nível internacional. E depois da economia estabilizada ver o que está por pagar. Não é possível continuar nesta situação absurda em que temos vivido.
CL – Macau, Timor e outras antigas possessões ultramarinas podem também ser parte da solução...
D. D.P. – Os livros de História e a política oficial da República Popular da China misturam a presença portuguesa com o colonialismo inglês e outras formas de colonialismo. É importante Macau lembrar aos governantes da China que não tem nada a ver uma coisa com outra. Portugal foi o único país europeu que não fez guerra à China; sempre recusou participar em acções violentas e agressões contra a China em que entraram outros países europeus, incluindo os alemães e os austríacos. A política portuguesa foi sempre pouco clara, no sentido de salvar a face da China e não comprometer a posição portuguesa. O Imperador da China considerava Portugal um país vassalo e o Rei de Portugal considerava o Imperador da China um irmão em pé de igualdade. Este convívio profícuo e vantajoso durou 500 anos.
JOSÉ MIGUEL ENCARNAÇÃO
Alteza Real,
Para estas dezenas de portugueses que trabalham aqui na China – em Macau – as visitas de Vossa Alteza Real são, acima de tudo, uma confirmação da esperança. Da esperança no futuro da nossa Pátria e, agora sobretudo, da recuperação da crise que nos vai devastando, causada pela inépcia e a desonestidade de muitos dos políticos que sucessivamente nos têm desgraçado. É que Vossa Alteza Real representa e personifica os valores da nossa História que, ao longo dos oito séculos que os Reis nos governaram, fizeram a nossa grandeza e o nosso prestígio internacional. E que apenas cem anos de República bastaram para nos hipotecarem a soberania, a independência e a respeitabilidade internacional. Culpa dos homens? Sem dúvida, mas, sobretudo, culpa do Regime.
Meu senhor, os príncipes são educados para servir, como Vossa Alteza Real um dia disse. Por isso aqui está hoje, sempre servindo Portugal e a afirmar-nos que podemos sempre contar com Vossa Alteza e toda a Família Real. É nesse mesmo espírito com que lhe dizemos pode contar também com a nossa fidelidade.
Agradecer-lhe a alegria que nos deu agora, peço a todos me acompanhem num brinde pelas felicidades de Vossa Alteza e para que volte bem e volte depressa.
Viva o Rei!
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