Não
desconsiderando o estro glorioso nem as sacratíssimas barbas de Camões, o 10 de
Junho - invenção romântica - devia dar lugar ao Dia da Pátria e dessa Liberdade
que quer dizer "Nós Somos Livres", que só o 1º de Dezembro corporiza.
O Terreiro do Paço vazio - ali já não há soldados enxutos que a peito nu e a
tiros haviam defendido a pátria - foi substituído por fruste encenação em que
as cruzes, os crepes de honra e as lágrimas de gratidão pelos caídos foram
trocados na barganha do favoritismo. Uma cruz antiga valia 100 destes
barões, um toque de silêncio 1.000 palavras de fingido patriotismo, os
estandartes de vitórias e derrotas 10.000 talheres dos banquetes que hoje e
amanhã farão a encenação possível para uma data que já ninguém sente.
Reduzidos
fisicamente, reduzidos animicamente, caídos em protectorado, não sei que
patriotismo rubro-verde é esse a que se agarram os centos de comensais e
palradores destas festividades encomendadas, sem povo, sem heróis, sem feitos
nem esperança. Portugal precisava de um Rei que unisse, de governantes
que dessem o exemplo e a ordem de comando, de um povo unido que se sentisse
mandatado para novos feitos. Sobre nós caiu o miserabilismo, a pequenez na
ambição, a insignificância dos objectivos. Portugal não precisa de lutar contra
a crise. A crise é o Portugal contemporâneo e dela só sairemos quando o
verdadeiro patriotismo - aquele que não aflora nas palavras, mas crepita nos
corações - nos der um rumo novo.
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