Por morte de seu irmão Dom Pedro V, ocorrida a 11 de Novembro de 1861, assumiu o governo e foi aclamado em 22 de Dezembro.
Primorosamente educado, hábil marinheiro, dotado de tolerantíssima bonomia, Dom Luís tinha um temperamento de literato e de artista. Apreciava e executava música clássica e traduziu para Português obras do grande dramaturgo inglês Shakespeare.
Entretanto, e porque um dos primeiros deveres de um Rei é o de garantir a sua sucessão no Trono, Dom Luís resolveu casar-se.
Escolhida a noiva, a jovem Princesa Dona Maria Pia de Sabóia, então somente com 15 anos, pois que nascera a 16 de Outubro de 1847, realizou-se por procuração passada ao Duque de Loulé, o casamento, primeiro em 27 de Setembro de 1862, no Palácio Real de Turim.
Chegada a Lisboa em 5 de Outubro a bordo da Corveta Bartolomeu Dias que a fora buscar a Génova, realizou-se no dia seguinte a cerimónia na Igreja de S. Domingos havendo, nesse altura, uma tão pródiga distribuição de títulos, mercês e demais condecorações.
O seu longo reinado caracterizou-se, no aspecto político, pela formação de dois grandes partidos políticos, que se alternariam no poder por largos anos, e pela propaganda das ideias republicanas, habilmente conduzidas pelas promessas de uma prosperidade económica que a Monarquia não poderia dar.
Experimenta-se o rotativismo, a alternância no poder entre os partidos progressista e regeneradores.
Em 1862, José Anselmo Braamcamp expulsa as irmãs da Caridade e extingue os morgados, propriedades que não podiam alienar-se ou dividir-se. Passavam sempre para o filho primogénito.
A população de Braga amotinou-se pouco depois, por causa da expulsão das Freiras, tornando-se necessário enviar, para essa cidade, fortes destacamentos militares com o fim de, através da costumada receita da caserna, acalmarem os beatíficos, mas pouco cordatos, ânimos da gente bracarense.
No decorrer destas operações, o capitão Guilherme Augusto da Silva Macedo, conjurado com os sargentos de Infantaria 6, ido do Porto, conseguiu amotinar 200 soldados com os quais, e com a ajuda do Batalhão de Caçadores 3, tentou nova revolta, marchando sobre Barcelos, na esperança de obter a adesão de Infantaria 5 e 13 ali acampados nessa ocasião.
Apesar dos seus poderes serem limitados devido ao regime parlamentar, Dom Luís tentou dirimir os conflitos dos primeiros tempos sem pôr em causa os direitos e liberdades adquiridos.
Em 1866, o ultra-romantismo conservador é contestado por Antero, Teófilo de Braga e outros, em oposição a António Feliciano de Castilho. Vai dar origem à Questão Coimbrã ou Bom Senso e Bom Gosto, fecunda polémica que iria abrir novos rumos e novos ritmos à literatura portuguesa.
Entrado já o último quartel do século, a política interna, por tanto tempo em relativa calma, enveredou por uma fase de transformações que viriam a ser fatais à Coroa. A 7 de Setembro de 1876, mediante o Pacto da Granja, o Partido Histórico e o Partido Reformista fundiram-se no Partido Progressista, no decurso de uma reunião efectuada naquela praia e na qual, entre outros, estiveram presentes Anselmo Braamcamp (sucessor do Duque de Loulé na chefia dos Históricos), o Bispo de Viseu, D. António Alves Martins (chefe dos Reformistas), José Luciano de Castro, Francisco Pinto Bessa, Luís de Campos, Tomás Lobo, Adriano Machado, Francisco de Albuquerque e Mariano de Carvalho.
Nos começos de 1877, depois de se conservar no poder durante seis anos, demitiu-se o Ministério regenerador de Fontes Pereira de Melo. Seguiu-se-lhe, em 6 de Março, o do Duque de Ávila, que, aliás, não logrou manter-se por falta de maioria. E, após um conflito parlamentar, foi de novo chamado Fontes – facto que deu origem a uma das campanhas de mais vastas consequências que houve em Portugal. Os progressistas atacaram directamente a pessoa do Rei, acusando-o de patrocinar os regeneradores. Mariano de Carvalho, no Diário Popular, Emídio Navarro, no Progresso, e Joaquim Martins de Carvalho, no Conimbricense, publicaram artigos violentíssimos, atirando ao ódio da turba a imagem de um Rei que se subalternizara.
Entretanto, o republicanismo que, a par de tendências socializantes, surgira no plano meramente intelectual quando das Conferências do Casino, não só evoluíra, como ganhara raízes.
As Conferências Democráticas do Casino, organizadas por Antero do Quental, Augusto Soromenho, Eça de Queirós, Adolfo Coelho, Oliveira Martins, Batalha Reis, Manuel Arriaga, José Fontana aproveitam os temas (política, literatura, sociologia, crítica) para espalhar as ideias republicanas. O Governo proíbe-as. A semente vai germinar sem grandes pressas.
Em 1878, toma assento na Câmara o primeiro deputado republicano, Rodrigues de Freitas, eleito pelo Porto.
Assim, a comemoração do tricentenário da morte de Luís de Camões, em 1880, não era já apenas uma grandiosa manifestação de um escol lucidamente animado por sincera vontade de enquadramento no ritmo da Europa culta, mas a expressão do convencimento de que só o podia fazer fora das instituições que o imobilizavam. No cortejo cívico então efectuado, nem um Viva ao Rei, nem a mais insignificante homenagem à Rainha. E em vez do Hino da Carta tocou-se uma marcha triunfal.
Longe de lutas políticas, decorrem as notáveis viagens dos exploradores africanos que percorrem Angola e Moçambique.
O conhecimento do Portugal africano foi intensamente desenvolvido e com essa finalidade o Rei fundou a Sociedade de Geografia de Lisboa, de que se declarou Protector e foi Presidente de Honra, participando com o maior interesse nas suas actividades culturais e científicas.
Em África, os exploradores portugueses Hermenegildo Capelo, Serpa Pinto, Roberto Ivens e Silva Porto percorrem os sertões e assinalam a presença portuguesa.
O reinado de Dom Luís assinalou-se materialmente pelo progresso, socialmente por uma certa paz e pelos sentimentos de convivência e politicamente pelo respeito pelas liberdades públicas.
Após dolorosa agonia, Dom Luís faleceu na Cidadela de Cascais, com 51 anos, a 19 de Outubro de 1889, tendo sido sepultado no Panteão Real de S. Vicente de Fora.
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