domingo, 11 de dezembro de 2011

DESCOBERTA A MAIOR COLECÇÃO PORTUGUESA DE FOTOGRAFIAS SOBRE O SIÃO

Foi há uma semana. Dávamos os últimos retoques na exposição Das Partes do Sião, quando recebi um telefonema da minha irmã Ângela Camila: "Miguel, estás sentado ? Acho que descobrimos o El Dorado da fotografia portuguesa no Sião". Lá fomos em correria ver o achado, discutir o negócio e arranjar os cabedais para adquirir o tesouro. E que tesouro! Cinquenta albuminas, de 1860 a 1905, assinadas por Francisco Chit e Joaquim António, dois "artistas de luz" que marcaram profundamente a história da fotografia no Sudeste-Asiático e integram hoje qualquer trabalho sobre a história contemporânea daquela região do planeta.
De cortar a respiração: fotos de estúdio, com os reis, os príncipes, os governadores de Macau de visita a Bangkok, os cônsules de Portugal, os membros da comunidade portuguesa na capital do Sião, os protegidos chineses registados na legação, vistas de Bangkok, dos seus templos e palácios; um eloquente desfilar de grandes mortos, pequenos protagonistas e ilustres desconhecidos. Fotos anotadas a lápis no verso, com preciosa informação sobre o local, data e figurantes.
Falei com o Professor António Vasconcelos Saldanha e este pediu de imediato que incluíssemos dois ou três peças na exposição. Lá estão: o retrato do Rei Chulalongkorn no dia da coroação, por Francisco Chi; a Orquestra Filarmónica de Bangkok, constituída por portugueses, que fez brado por aquelas paragens no virar do século; um friso de Protegidos Chinas em frente do Consulado-Geral de Portugal, por Joaquim António.
Os fotógrafos - Francisco e Joaquim - também revelam traços de carácter. Francisco Chit era um homem cheio de talento, mas foi toda a vida um funcionário do Rei. Discreto, quase invisível por detrás da câmara, servindo com modéstia o seu senhor; um ausente-presente na grande obra que deixou.
Joaquim António, esse, era um homem cheio de expediente e atrevimento. Não havia foto de grupo onde não quisesse pousar, sempre de charuto semi-fumado numa mão, panamá de palha na cabeça, oculinhos redondos fundo-de-garrafa, fato janota. Sabia fazer carreira e convidava-se.
A colecção merece um álbum e estudo detalhado. Talvez para 2012, quando defender e publicar a tese desinquietarei alguma editora para revelar o filão agora desenterrado.
Miguel Castelo-Branco
COMBUSTÕES

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