Admitindo que os efeitos festivos das decorações natalícias nas ruas da cidade, podem contribuir para o Espírito que a quadra encerra, confesso que não sou seu incondicional aficionado, antes pelo contrário. Em plena crise financeira, a sua notória ausência não me incomoda: o mais das vezes, o seu efeito ostentatório resulta na tendência para a adulteração da festa do nascimento de Jesus, como mais uma pândega do calendário pagão.
Lisboa tem este ano, sob os auspícios do Zé “que faz falta”, dos esfregões 3M, da Câmara Municipal e mais 150.000 euros, em vez das habituais iluminações, sete “instalações” foram concebidas por “verdadeiros artistas da modernidade" para assinalar a quadra, de que afinal nenhum lhe conhece o sentido. Não consta que nalguma ”instalação” se encontre uma única menção ao nascimento de Jesus: na Praça do Chile são molhos de chapéus-de-chuva iluminados, junto ao Parque Eduardo VII exibe-se um conjunto de repugnantes gaiolas em forma de árvores de Natal entulhadas de lixo “para reciclar”. Nos ajardinamentos centrais da Rotunda foram espetados uma série de “sinais de trânsito” reflectores que anunciam a “Lapónia”, o “Bacalhau”, a “Neve”, o “Peru”, o “Pai Natal” e toda a vasta gama de iconografia mundana referente às festas. Este absurdo puritanismo laicista está também patente num anúncio da TV ao jogo da lotaria em que o apresentador enumera uma séride de tradições do Natal português evitando olimpicamente referências a Jesus ou ao presépio, mas mencionando uma inexistente “Noite do Galo”, como alusão disfarçada à Missa do Galo.
Através da abordagem mediática e demais tralha publicitária que invade as nossas casas através da imprensa, rádio e televisões, constatamos a tenacidade do regime tornar o Natal uma festa pagã. Afonso Costa por estes dias se não ardesse no Inferno, chocalharia veemente os seus ossos exultando no caixão: todas as festas perfilhadas pelo todo-poderoso Estado Laico, se vão assemelhando cada vez mais, a uma série de variantes do Carnaval: sejam elas protagonizadas pelo Pai Natal, por simples foguetório e embriaguez, por brasileiras desnudadas a tiritar de frio, coelhinhos de chocolate ou até sardinhas assadas. O motivo e finalidade comum é a simples alienação num tanto quanto possível desregrado folguedo.
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Voltando ao essencial, não desisto de apregoar que, ultrapassada a perspectiva infantil, o Natal não é magia mas dum Milagre que se trata… a diferença é profunda e o fenómeno não requer luminárias ou artifícios. Porque esse incomensurável Milagre de Deus encarnado no humilde Menino acontece no coração das pessoas. Um Menino Jesus que Se nos entrega para derrotar a nossa soberba com o seu Amor, chegando desta forma tão próximo de nós que “podemos tratá-lO por tu e manter com Ele uma relação íntima de afecto profundo, como fazemos com um recém-nascido*”.
É a preparação para este Natal, na intimidade do Presépio em que cada um de nós possui a graça de participar a 25 de Dezembro, que me concede a mim uma profunda paz e a sensação mais parecida com felicidade que conheço e que se me exige dar testemunho.
Porque a felicidade é incompatível com o egoísmo e o júbilo impele-nos a partilhá-la, entristece-me que a república laica tenha expulsado o Menino Jesus desta magnânima festa, e a sua mensagem seja tão militantemente censurada. Finalmente, urge perguntar: quem ganha com tudo isto, quem fica de facto a perder?
* In "Pensamentos sobre o Natal" de Bento XVI, 1ª edição da Lucerna - Novembro de 2011.
João Távora
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