Que venha 2012! Que venha com promessas de vitórias, de prosperidade, de bençãos, de sucesso!! Bom Ano para todos e até para o ano que vem!
sábado, 31 de dezembro de 2011
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
AOS 5 DIAS DO MÊS DE MARÇO DE 1641
“Conforme as regras de direito natural, e humano, ainda que os Reinos transferissem nos Reis todo o seu poder, e império para os governarem, foi debaixo de uma tácita condição de o regerem, e mandarem com justiça, sem tirania, e tanto que no modo de governar usarem delas, podem os Povos privá-los dos Reinos, em sua legítima natural defesa.” Foi assim que em 1641, no assento das cortes, justificámos a revolta e sublinhámos a legitimidade democrática de D. João IV. Escrito “aos 5 dias do mês de Março de 1641”, o texto prova que vieram dos portugueses as primeiras ideias iluministas da história [“iluminismo representa a saída dos seres humanos da menoridade que estes se impuseram a si mesmos”], anos antes da era da razão, 135 anos antes da Declaração de Independência dos EUA – “[...] sempre que qualquer forma de governo se torne destrutiva de tais fins [vida, liberdade e felicidade], cabe ao povo o direito de alterá-la ou aboli-la” – e 148 anos antes de Paris forjar os Direitos do Homem e do Cidadão – “Nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela [nação] não emane expressamente”. É verdade que custou, mas com o tempo aceitei que o nosso país não tenha a força dos EUA ou de França para reclamar o lugar na história que o assento merece: no topo. O que nunca conseguirei aceitar é que parta de portugueses a ideia de ignorar este dia. Não festejar o 1 de Dezembro representa a morte de um dos três dias mais importantes da nossa história: os outros dois já foram chacinados e servem agora de exemplo: 5 de Outubro de 1143? Lembra-se de um tal Tratado de Zamora? E lembra-se de Aljubarrota e de 14 de Agosto de 1385? Agora ignora-se 1640 em nome de uma medida para inglês ver e mantendo feriados bem menos importantes que a Independência – a Imaculada Conceição sem D. João IV ainda seria padroeira de Vila Viçosa. Os EUA ou França alguma vez acabarão com o 4 de Julho ou o 14 de Julho? Never. Jamais. Depois de terem estragado o nosso presente e o nosso futuro, estão a tirar-nos o passado. Estamos cada vez mais esquecidos que somos mais que Camões, Fátima, fado e Descobrimentos. Mas aparentemente já ninguém está a tomar conta de nós ou da nossa história.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
MONARQUIA NOVA
Por mais que os seus detractores insistam, ancorados em complexos e preconceitos malsãos e numa certa subcultura de burguesia de dinheiro novo inseguro, a evidência é que a solução monárquica se coloca hoje como futurível e muitos portugueses, de esquerda como de direita, aceitam agora discutir a Restauração como tópico relevante da agenda política.
De tema marginal, a possibilidade da Restauração ganhou paulatinamente adeptos. Já não é um dado de memória, partilhado e transmitido por herança familiar; é uma corrente de opinião que vai ganhando espaço, que concita simpatia e adesões em todos os escalões sociais e profissionais. A república habituara-se a monarquices extravagantes de dedos brasonados e bizantinas exibições genealógicas; hoje debate-se com uma verdadeira insurreição cultural que lhe mina os fundamentos, a legitimidade e desafia a sua mitologia. De facto, a república nunca teve republicanos e os que teve confundiram-se sempre com o Partido Democrático, essa coisa tentacular, carregada de baias e dominada por pulsões liberticidas. Os republicanos, hoje, são poucos, inconsistentes e invertebrados. Pedem a mudança na república, mas tudo o que defendem já foi experimentado e falhou: falhou no republicanismo parlamentar primo-republicano, com uma chefia de Estado simbólica, falhou com o cesarismo plebiscitário de Sidónio, falhou com a presidência submetida ao “presidencialismo do Presidente do Conselho”, falhou com o semi-presidencialismo de voto directo universal que ainda temos. No fundo, a república é o passado e desse passado não se consegue libertar. Está, arrasta-se, finge consenso. Não sendo detestada é, no mínimo, desprezada. Viraram-lhe as costas, por ela não se interessam, não mobiliza corações nem inteligências. Refém das lutas partidárias, a chefia de Estado republicana passou a ser encarada como pré-aposentamento para os locatários de Belém. Vai-se descendo em intervenção, subindo na hierarquia do Estado. O Presidente é, hoje, um Roi fainéant, um falso rei constitucional, sem o prestígio de um monarca hereditário, sem a influência fáctica de que gozam os reis e com a tremenda e irreparável suspeita de continuar, por mais que o negue, a depender do(s) partido(s) que o colocaram na chefia do Estado
Por seu turno, a possibilidade de uma monarquia nova parece identificar-se com a grande política e com a destinação de Portugal. Hoje, defender a monarquia pressupõe a defesa de uma certa ideia de Portugal, da lusofonia, da preservação do mínimo da soberania do Estado, das liberdades regionais, da separação de poderes, da fiscalização dos abusos cometidos pela partidocracia, de colocar no seu lugar os plutocratas mais as negociatas e os favores. Defender uma monarquia nova é sinónimo de reposição da respeitabilidade do Estado, da solidariedade social e da realização dos grandes objectivos colectivos. Acabei de ler uma excelente antologia comentada de textos de Lord Salisbury, quiçá um dos maiores pensadores de acção conservadores do século XIX, infelizmente pouco conhecido pela generalidade dos conservadores portugueses. Salisbury era defensor da paz e do equilíbrio, teoria que aplicava aos negócios estrangeiros como aos assuntos internos. Para a sua realização, advertia para o perigo do imobilismo conservador e do aventureirismo trabalhista. Uma política serena, de unidade no essencial, com partilha de responsabilidades era, em suma, a sua solução. Portugal precisa, mais que no passado, desta concórdia e deste embainhar de espadas. Portugal precisa de recobrar a segurança e o ânimo, voltar a gostar de si, pensar as aventuras do futuro. A república atira-o para o passado, para a guerra civil, para a disputa miniatural, para o fulanismo.
É por isso que sempre que olho para os nossos Príncipes vejo essa possibilidade de recobro do direito que temos ao futuro.
Miguel Castelo Branco, in Combustões
Fotos: Baptizado de S.A.R., Dom Afonso de Santa Maria
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
"CELEBRANDO JUNTAS"
A embaixatriz Lívia Coelho Paes Barreto celebrou o seu aniversário este ano na casa dos Duques de Bragança. A coincidência é que ela e a Senhora Dona Isabel nasceram no mesmo dia, e como no ano passado os festejos foram na residência do embaixador Renan Paes Barreto e Lívia, este ano quem celebra a data é a Duquesa Isabel de Bragança. A festa aconteceu no lindissimo apartamento dos Duques de Bragança, Dom Duarte e Dona Isabel, que eles acabaram de restaurar e decorar. A propriedade fica na Rua dos Duque de Bragança. A casa de Sintra é a residência oficial, mas o apartamento de Lisboa é o que usam durante a semana. Chique demais não é mesmo? Presença de todos os Duques, Marqueses, Condes, enfim, a realeza portuguesa “au grand complet”: Marquês do Lavradio e a esposa Teresa, Condes de Resende, os pais da Senhora Dona Isabel - Dona Raquel e Arq. Jorge de Herédia, Manuel de Herédia – irmão da Duquesa.
Comida maravilhosa: croquetes e chamuscas, queijos portugueses maravilhosos, patês e um bolo de aniversário que era uma espécie de bem casado gigante feito pela cozinheira de Dona Isabel.
Na foto, Lívia Coelho Paes Barreto, Dona Isabel de Bragança e Maria Cortez Lobão.
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
APESAR DE TUDO, AMANHÃ SERÁ NATAL
Se considerarmos a racionalidade a prática da boa interpretação da realidade, podemos atribuir ao século xx, o do advento das repúblicas, das independências e das “igualdades”, o cognome de “O irracional”. O conhecimento e a aptidão tecnológica definitivamente não conferiram racionalidade ao ser humano: para não nos determos em demasia nos três maiores monstros do século passado, Mao Tsé-tung, José Estaline e Adolf Hitler, aos quais, por junto, se pode atribuir a responsabilidade de quase 200 milhões de vítimas, observe-se o caso do jovem norueguês Anders Breivik, que dominava técnica suficiente para fabricar as bombas que fez explodir em Oslo.
Neste início de milénio no Ocidente suportamos ainda o legado desse trágico século da irracionalidade, da massificação ideológica e do desconstrutivismo laicista, tornado vitorioso por conta dos sofisticados mecanismos de controlo social entretanto desenvolvidos: nunca foi tão simples a gestão de um moralismo de massas, o incremento da religião do Estado, atiçar ressentimentos selectivos, a popularização do consumo de narcóticos, a democratização da alarvidade, sem esquecer a promoção de tremendismos de conveniência, complexos de culpa e puritanismos de substituição. Decididamente, não são só os corpos policiais bem equipados e os ministérios da propaganda sofisticados que mantêm os rebanhos a balir unissonamente, é o caldo vigente que, num panorama de ilusória liberdade individual, impele as pessoas a agirem por imitação, seguindo os cânones eficazmente publicitados pela maioria, à revelia das elites descomprometidas e da estética erudita, relegados à irrelevância pelo índex da adolescentocracia.
De resto, bem sabemos como a utopia da “igualdade” se tornou um bezerro de ouro, e como a liberdade, o valor mais caro à humanidade, será sempre um bem precário, quando não uma vã miragem. Os filósofos, os escritores e os cientistas há muito sentenciaram um prognóstico: a contingência humana é uma incontornável limitação aos seus profundos ensejos de realização, que só o espírito pode alcançar.
Se o Natal de Cristo se desse hoje (e certamente ele se dará amanhã no coração de muitos cristãos, cada vez mais excluídos), de onde viriam os despojados pastores e vigilantes de coração puro? Quantos reis magos dos nossos dias se desprenderiam da sua zona de conforto, do seu conhecimento “científico”, deixando-se guiar pela estrela do Oriente para adorar o Menino Redentor, tão insistentemente profetizado na história pelos profetas? Onde se encontrariam, entre as hordas de “cidadãos” modernos, consumidores criteriosos, público exigente, exemplos da mais simbólica figura do presépio, os pastores, gente desperta e disponível (porque despojada), para o grande Advento da humanidade? Como escutar o silêncio da noite estrelada, essencial para atender à voz do coração, de onde brota o apelo decisivo e o cerne da salvação? Se o nascimento de Cristo acontecesse hoje, para lá dos compenetrados cientistas na NASA ou na AEE, que se limitariam a tirar as medidas ao cometa, quantos de nós atentariam à estrela luminosa apontando o caminho do Natal de Jesus, Deus redentor nascido criança numa manjedoura, que nos é permitido tratar por tu numa relação íntima de afecto profundo?
O império da racionalidade em que urge converter este novo século deverá começar a ser edificado por uma drástica concessão de espaço ao livre arbítrio do homem, único e irrepetível, como chave de um percurso de libertação e felicidade, que estará sempre a montante de quaisquer modas ou agendas ideológicas. O império da racionalidade em que urge tornar o nosso século só poderá emanar do coração dos indivíduos de razão e coração livres, através da prática de uma ecologia do homem que o liberte da poluição que tolda o seu espírito e os seus sentidos. Porque a felicidade só é concebível com pessoas inteiras e mais realizadas: um desafio a que nenhum Estado ou legislação está apto a responder.
João Távora
Um Santo Natal a todos.
* Originalmente publicado a 24 Dez 2011 no Jornal i
domingo, 25 de dezembro de 2011
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
UM SANTO NATAL
Desejo a todos os que visitam o Blog Família Real Portuguesa, um Santo e Abençoado Natal em Cristo, com muita Paz, extensivo aos vossos familiares. Que o espírito natalício traga aos nossos corações o verdadeiro sentido de amor e paz. Que o Deus Menino concretize todos os vossos desejos e ilumine as vossas vidas.
BOAS FESTAS!
35º ANIVERSÁRIO DA MORTE DE S.A.R., DOM DUARTE NUNO DE BRAGANÇA
Dom Duarte Nuno de Bragança, (nome completo: Duarte Nuno Fernando Maria Miguel Gabriel Rafael Francisco Xavier Raimundo António de Bragança; Seebenstein, 23 de Setembro de 1907 - Ferragudo, 23 de Dezembro de 1976), reivindicou ser o 23° Duque de Bragança e o herdeiro presuntivo do trono de Portugal. Era Pai de Dom Duarte Pio e Filho de Dom Miguel II de Bragança e de Dona Maria Teresa de Löwenstein-Wertheim-Rosenberg.
Após o 25 de Abril de 1974, por força de ímpetos revolucionários, com as espoliações e nacionalizações, Dom Duarte Nuno viu-se obrigado a abandonar a residência e mudou-se para a casa de uma das irmãs (Dona Filipa) em Lisboa. Faleceu em 23 de Dezembro de 1976 e, encontra-se sepultado na Igreja do Convento dos Agostinhos de Vila Viçosa.
O NATAL, O VAZIO E A TRALHA DOS IMENSOS CARNAVAIS
Admitindo que os efeitos festivos das decorações natalícias nas ruas da cidade, podem contribuir para o Espírito que a quadra encerra, confesso que não sou seu incondicional aficionado, antes pelo contrário. Em plena crise financeira, a sua notória ausência não me incomoda: o mais das vezes, o seu efeito ostentatório resulta na tendência para a adulteração da festa do nascimento de Jesus, como mais uma pândega do calendário pagão.
Lisboa tem este ano, sob os auspícios do Zé “que faz falta”, dos esfregões 3M, da Câmara Municipal e mais 150.000 euros, em vez das habituais iluminações, sete “instalações” foram concebidas por “verdadeiros artistas da modernidade" para assinalar a quadra, de que afinal nenhum lhe conhece o sentido. Não consta que nalguma ”instalação” se encontre uma única menção ao nascimento de Jesus: na Praça do Chile são molhos de chapéus-de-chuva iluminados, junto ao Parque Eduardo VII exibe-se um conjunto de repugnantes gaiolas em forma de árvores de Natal entulhadas de lixo “para reciclar”. Nos ajardinamentos centrais da Rotunda foram espetados uma série de “sinais de trânsito” reflectores que anunciam a “Lapónia”, o “Bacalhau”, a “Neve”, o “Peru”, o “Pai Natal” e toda a vasta gama de iconografia mundana referente às festas. Este absurdo puritanismo laicista está também patente num anúncio da TV ao jogo da lotaria em que o apresentador enumera uma séride de tradições do Natal português evitando olimpicamente referências a Jesus ou ao presépio, mas mencionando uma inexistente “Noite do Galo”, como alusão disfarçada à Missa do Galo.
Através da abordagem mediática e demais tralha publicitária que invade as nossas casas através da imprensa, rádio e televisões, constatamos a tenacidade do regime tornar o Natal uma festa pagã. Afonso Costa por estes dias se não ardesse no Inferno, chocalharia veemente os seus ossos exultando no caixão: todas as festas perfilhadas pelo todo-poderoso Estado Laico, se vão assemelhando cada vez mais, a uma série de variantes do Carnaval: sejam elas protagonizadas pelo Pai Natal, por simples foguetório e embriaguez, por brasileiras desnudadas a tiritar de frio, coelhinhos de chocolate ou até sardinhas assadas. O motivo e finalidade comum é a simples alienação num tanto quanto possível desregrado folguedo.
~o~
Voltando ao essencial, não desisto de apregoar que, ultrapassada a perspectiva infantil, o Natal não é magia mas dum Milagre que se trata… a diferença é profunda e o fenómeno não requer luminárias ou artifícios. Porque esse incomensurável Milagre de Deus encarnado no humilde Menino acontece no coração das pessoas. Um Menino Jesus que Se nos entrega para derrotar a nossa soberba com o seu Amor, chegando desta forma tão próximo de nós que “podemos tratá-lO por tu e manter com Ele uma relação íntima de afecto profundo, como fazemos com um recém-nascido*”.
É a preparação para este Natal, na intimidade do Presépio em que cada um de nós possui a graça de participar a 25 de Dezembro, que me concede a mim uma profunda paz e a sensação mais parecida com felicidade que conheço e que se me exige dar testemunho.
Porque a felicidade é incompatível com o egoísmo e o júbilo impele-nos a partilhá-la, entristece-me que a república laica tenha expulsado o Menino Jesus desta magnânima festa, e a sua mensagem seja tão militantemente censurada. Finalmente, urge perguntar: quem ganha com tudo isto, quem fica de facto a perder?
* In "Pensamentos sobre o Natal" de Bento XVI, 1ª edição da Lucerna - Novembro de 2011.
João Távora
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
O NATAL CONTADO POR CRIANÇAS
The Christmas Story (2010 version) - as told by the children of St Paul's Church. Anyone is welcome to show this film publicly, but not change it in any way, nor make money out of it. The music is not available to download.
O NOSSO NATAL É COMO O DOS PRÍNCIPES DO SÉC. XIX
Foi D. Fernando II quem, nostálgico das tradições da sua infância, resolveu um dia fazer no palácio uma árvore de Natal para os sete filhos que tinha com a rainha D. Maria II, e distribuir presentes vestido de São Nicolau. Em Inglaterra, a rainha Vitória encantava-se com a mesma tradição, trazida pelo seu marido, Alberto, primo de D. Fernando. Pela mão dos dois primos germânicos nascia a festa de Natal como a conhecemos hoje.
Alguns dos Principezinhos espreitam por detrás de uma cortina. Um outro, mais velho, está sentado numa cadeira, rindo, com as pernas no ar. Há um que parece tapar os olhos, como quem espera uma surpresa, e as duas meninas espreitam para dentro de um dos sacos da figura vestida de escuro que ocupa o centro da gravura. Ao fundo, sobre uma mesa, está, toda enfeitada, uma árvore de Natal.
Eram assim as noites de Natal da família real em meados do século XIX. D. Fernando II, marido da rainha D. Maria II e pai dos seus sete filhos, representava nas suas gravuras e águas-fortes o ambiente familiar, com ele próprio vestido de S. Nicolau a distribuir presentes. Mas o que é significativo na imagem é o facto de, segundo se crê, ela ser a primeira representação de uma árvore de Natal em Portugal.
D. Fernando era alemão. Com o seu primo Alberto, tinha passado a infância comemorando o Natal segundo a velha tradição germânica de decorar um pinheiro com velas, bolas e frutos. Por isso, quando começaram a nascer os seus filhos com D. Maria II - a rainha teve 11 gravidezes, mas só sete crianças sobreviveram, e a própria D. Maria morreu aos 34 anos, no parto do 11.º filho - D. Fernando decidiu animar o palácio com um Natal de tradições germânicas.
A rainha ficava encantada. Nas cartas à sua prima, a rainha Vitória falava com entusiasmo dos preparativos para a festa de Natal, que seria, aliás, muito semelhante à que Vitória (que tinha casado com Alberto) organizava no Castelo de Windsor, em Inglaterra.
"Nada, nem o ar amuado de D. Pedro [o primogénito e futuro rei D. Pedro V], conseguia estragar as festas de Natal", escreve Maria Filomena Mónica em O Filho da Rainha Gorda - D. Pedro V e a sua mãe, D. Maria II, conto que escreveu inicialmente para os netos e que foi depois editado pela Quetzal. "Na Alemanha, onde havia grandes florestas, era costume montar-se, nessa época, uma árvore, enfeitada com flores, bonecos e bolas. Em Portugal, o uso era antes o presépio, com o Menino Jesus nas palhinhas. Em 1844, D. Fernando resolveu fazer uma surpresa à família. Colocou em cima da mesa um pinheirinho, pondo ao lado os presentes."
Podemos imaginar o que seriam os presentes dos Príncipes graças a outra gravura de D. Fernando que mostra o Príncipe D. João, pequenino, com uma camisa de noite comprida e segurando um cavalinho na mão, a olhar para uma mesa enfeitada com a árvore de Natal, e rodeado de bonecos - um tambor, um estábulo com animais, um soldado de chumbo montado num cavalo. O Natal deixava de ser apenas uma festa religiosa e passava a ser uma festa das crianças.
A vida da Família Real
"O século XIX é fracturante em relação ao passado na promoção de uma nova visão do convívio da família", explica Nuno Gaspar, historiador e técnico do Palácio da Pena, em Sintra, onde preparou uma visita, realizada no ano passado, que tinha como tema o Natal da família real (embora, sublinha, durante a época do Natal, os reis e os filhos não estivessem na Pena, mas sim no Palácio das Necessidades, em Lisboa). "A tradição dos presentes não existia, sobretudo nos meios mais populares. Esta associação dos presentes que são trazidos pelos Reis Magos para oferecer ao Menino Jesus não existe antes. Pôr as crianças no centro das festividades do Natal é obra do século XIX."
Ao contrário do que acontecia anteriormente, é agora evidente uma intimidade muito maior entre pais e filhos - e os ambientes domésticos reflectem isso. Sobretudo o Palácio da Pena, onde D. Fernando pôde tornar realidade o sonho de qualquer romântico, nas salas indianas ou árabes, nos salões, nos quartos ricamente decorados, nos espaços mais pequenos para as noites em família, a ler, a tocar piano ou a brincar com as crianças, nas torres e num jardim com pontes, grutas, pérgulas e fontes.
"O homem do Romantismo não gosta de grandes espacialidades, prefere espaços acolhedores, quentes, que promovam a aproximação entre os indivíduos", acrescenta Nuno Gaspar. "A Pena é a expressão de uma modernidade, um espaço que tem que se prestar a acolher o tempo íntimo da família."Nos espaços públicos também se reflecte essa relação mais próxima entre pais e filhos, e vai-se criando a imagem de uma família real igual a todas as outras. Os Reis e os Príncipes passeavam no Passeio Público e conta-se mesmo que, um dia, D. Maria passeava com o Príncipe D. Luís no Jardim da Estrela e, perante a relutância da criança em abraçar outro menino que ali brincava, ela o terá encorajado a fazê-lo.
A educação era marcada também pelo rigor. "Os Infantes e os Príncipes passavam muito tempo com os preceptores, mas os pais não se eximiam da sua função de educadores", diz o historiador. "Eles [os monarcas] viviam para os filhos, mas com alguma exigência", confirma José Monterroso Teixeira, especialista em História da Arte e da Arquitectura. "O rei institui a prestação de provas públicas e impõe um currículo prussiano, com um corpo de professores muito seleccionado."
O futuro Rei D. Pedro V e os irmãos tiveram, assim, uma formação muito diferente da da mãe e mesmo do avô e tio-avô, D. Pedro e D. Miguel. "Nos dois anos que se seguiram à morte da mãe, D. Fernando pôs D. Pedro e D. Luís a viajar pela Europa", porque achava fundamental que eles conhecessem o mundo, explica Monterroso Teixeira.
Filomena Mónica conta o mesmo no seu livro: "Fora do Natal, os Príncipes seguiam um horário de estudo disciplinado. O pai não era para brincadeiras. Sempre que podia, dava-lhes lições, sobretudo de Zoologia e Botânica. [...] Muito estudioso, D. Pedro começou logo a fazer exercícios de tradução. Aos 11 anos, foi sujeito, com êxito, a um exame diante dos pais. Estes, e os fidalgos que estavam presentes, ficaram admirados com a forma como ele fizera uma redacção em latim."
A Rainha Vitória e Dickens
Os tempos livres eram também cheios de actividades. Na serra de Sintra (D. Maria II nunca chegou a viver na Pena, porque a obra ainda não estava terminada quando ela morreu, em 1853), conta Filomena Mónica, "de dia faziam piqueniques, à noite viam fogos-de-artifício, e às vezes a rainha organizava bailes. Em meados do mês, voltavam para Lisboa".
Os nobres, primeiro, e o povo, depois, vendo os hábitos da família real, entre os quais a tradição da árvore de Natal, começam a imitá-los. O mesmo se passa em Inglaterra. Não é por acaso que se fala em Natal vitoriano - muitas tradições que ainda hoje se mantêm nasceram nesta altura.
Em 1848, o Ilustrated London News publicou um desenho em que se vê a família real em torno de uma árvore de Natal, com a rainha Vitória e o príncipe Alberto a olhar para os filhos, que contemplam, fascinados, as luzes. A publicação da imagem (que, um ano depois, chegou aos EUA) teve um efeito imediato e em muitas casas começou-se a instituir a tradição da árvore (em Portugal, o desenho de D. Fernando não foi publicado por isso o processo terá sido mais lento).
"Hoje tenho dois filhos aos quais posso dar presentes e que, sem saberem bem porquê, estão cheios de um maravilhamento feliz perante a árvore de Natal germânica e as suas velas brilhantes. [A árvore] afectou profundamente o Alberto, que ficou pálido, tinha lágrimas nos olhos e apertou a minha mão com ternura", escreveu a Rainha Vitória, segundo conta Anna Selby em The Victorian Christmas.
Ao longo do século XIX, outras tradições natalícias foram surgindo. Em 1843, Henry Cole pediu ao artista J. Calcott Horsley que desenhasse um postal de Natal - o desenho mostrava um grupo de pessoas a comer e a beber em volta da mesa de Natal e tinha escritos votos de Feliz Natal e Bom Ano Novo.
Nesse primeiro ano, imprimiram-se apenas mil, mas, nas décadas seguintes, generalizou-se o envio de cartões de Natal e desenvolveu-se uma indústria de decorações cada vez mais elaboradas. Com a árvore, chegou também a figura de S. Nicolau - que Fernando II encarnava para distribuir os presentes pelos filhos. Terá sido um editor de Nova Iorque, William Gilley, quem, em 1821, publicou um poema anónimo num livro infantil que falava em Santa Claus (o nome virá do holandês Sinterklaas) e no seu trenó puxado por renas. A imagem do Pai Natal como um velhote bonacheirão de barbas brancas carregando sacos de brinquedos surgiu também no século XIX pela mão do cartoonista americano Thomas Nast. Mas quem melhor terá descrito o espírito do Natal vitoriano foi Charles Dickens - não é por acaso que ficou conhecido com "o homem que inventou o Natal". Foi ele quem, em 1843, escreveu Conto de Natal, a história do velho e avarento Scrooge, e são os livros de Dickens que instalam definitivamente no nosso imaginário a imagem da véspera de Natal como uma noite fria, com o nevoeiro a invadir as ruas, e as casas acolhedoras e aquecidas, com a família reunida à volta de um peru e da árvore de Natal - a tal inovação que tanto entusiasmava toda a Europa e que, num texto publicado em 1850, o escritor descreve como "aquele bonito brinquedo alemão".
Público
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
S.A.R., A SENHORA DONA ISABEL DE BRAGANÇA NO PROGRAMA "PRAÇA DA ALEGRIA"
S.A.R., Dona Isabel de Bragança e o Chefe Hélio Loureiro na Praça da Alegria. (1ª e 2,ª Parte) - 20 de Dezembro 2011, RTP1
POR UMA OUTRA EUROPA
Neste tempo de “austera, apagada e vil tristeza” que Portugal vive, por culpa de governantes sem visão, sem objectivos que não sejam os imediatos que podem gerar votos, lugares e prebendas - numa clara adulteração da democracia -, sem valores e sem rasgo, é impossível não voltar a falar da Europa como comunidade política e económica em que o País se integrou em 1986, desfeito o império ultramarino de tal forma, por culpa da imprevidência e obstinação de uns e da cegueira ideológica de outros, que reduziu mercados e espaço económico, e como âncora de salvação para a incipiente organização democrática que ainda se sentia ameaçada tanto por saudosistas da II República como por aventureirismos dos defensores dos “amanhãs que cantam”.
Apesar da adesão quase geral dos portugueses à entrada para a Comunidade Económica Europeia, que foi sendo apresentada como o novo desígnio nacional, como meio de em pouco tempo se atingir um patamar de desenvolvimento que a República do Estado Novo não fora capaz de propiciar, como forma de sairmos do ambiente asfixiante do “orgulhosamente sós” e dos milhões que foram entrando nos cofres do Estado depauperado por doze anos de destruição da economia pelos comunistas e da gestão socialista, a Europa como construção supranacional, foi sempre uma questão que a maioria da população nunca considerou como digna do seu interesse imediato. Ficou nas mãos dos políticos que foram sendo eleitos para os directórios partidários e para os governos, numa lógica de exaltação clubística, a orientação para os sucessivos passos que a CEE conheceu até se tornar na União Europeia, regida por tratados que a maioria desconhece - mesmo de muitos peões, e até torres, dos partidos que os apoiaram e aprovaram. Esses passos levaram a organização europeia a um alargamento rápido demais e pouco pensado, que gerou complexidade na gestão de interesses e naturais expectativas, à criação da moeda única, a um federalismo incipiente e travestido para não assustar nacionalismos indesejados, no pressuposto de uma solidariedade interna que tenderia à aproximação dos países mais atrasados e à estabilização geral em elevados níveis de bem-estar. Em todo este processo, um pouco por todos os países europeus e em particular em Portugal, os povos não foram chamados a pronunciar-se sobre as sucessivas perdas de soberania e muito menos lhes foi explicado cabalmente o verdadeiro significado dos passos dados em seu nome.
Depois sobreveio a crise nascida nos EUA que contaminou a Europa, a que se foram somando as crises internas de países que, novos-ricos mercê dos fundos europeus, acreditaram que já tinham atingido o patamar de desenvolvimento dos que eram remediados mas presumiam de ricos e, fiados na sua solidariedade inesgotável, resolveram viver nessa nova condição.
Os nacionalismos encapotados dos mais ricos, a impaciência para com a presunção dos novos-ricos que se endividaram até à mendicidade, levou a que em vez de se recuar num projecto que, por irrealista, estava condenado ao fracasso, se queiram dar novos passos no sentido do federalismo, mas tendo como motor e futuros beneficiários, em termos de poder efectivo, os estados que os impuseram. A estratégia de Bismark e os sonhos de Hitler que se entrelaçam com o de Napoleão, numa versão moderna e dual de domínio da Europa.
Portugal, desperto apenas quando o apertar do cinto estiver a atingir o último furo, começa agora a perceber, embora lentamente, ao que esta cegueira política seguidista em relação aos partidos federalistas conduziu. Mas também em relação aos que, e foram todos os dos arco governativo, trocaram a soberania por um prato de lentilhas, acreditando que bastava comê-las, sem tratar de semeá-las e colhê-las, para que este de novo se enchesse.
Na crise que a Europa comunitária atravessa, a sua implosão seria muito pior do que a sua manutenção, mas é urgente que seja alterada a sua concepção federalista para uma Europa das nacionalidades. Como escreveu Guilherme de Oliveira Martins recentemente,” Falar da Europa das nacionalidades é, pois, compreender a História, lançando as bases de uma realidade política e institucional capaz de definir os interesses e valores comuns e de defendê-los, preservando as diferenças e fazendo delas um factor de encontro, de paz e de preservação do património cultural comum. A herança e a memória devem assim encontrar-se. A Europa precisa, no fundo, de entender o que a une e a divide, para que possa tornar-se uma União activa de Estados e Povos livres e soberanos”.
É esta concepção da Europa que pode ajudar Portugal na sua caminhada para o desenvolvimento económico, social e cultural, preservando a sua soberania e contribuindo com a sua identidade, forjada em quase nove séculos, para o todo comum.
João Mattos e Silva
João Mattos e Silva
Texto publicado no Diário Digital a 19-Dez-2011
q u i n t a - f e i r a . c o m
A MONARQUIA EM PORTUGUÊS NA INTERNET
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
COMUNICADO DA CASA REAL PORTUGUESA
Comunicado
As propostas do nosso Governo para a abolição de Feriados civis e religiosos são uma tentativa para aumentar a produtividade nacional, com o custo de apagar datas evocativas que reconhecem a dignidade, identidade, e individualidade de Portugal.
Pelas suas repercussões no futuro, não são conhecidas contas de organismos responsáveis que provem ser este um meio eficaz de o conseguir, mas compreendo a tentação em aumentar tempo de trabalho.
Contudo, e tal como afirmei nas celebrações do Dia 1 de Dezembro em Mirandela, é um mau caminho apagar as datas nacionais que a História consagrou.
O Dia 1 de Dezembro é o mais antigo feriado cívico português, que une toda a Nação Portuguesa, em torno da sua Bandeira, do seu Hino, da sua História e cuja Instituição Histórica evoca a Restauração da Independência contra a subjugação do nosso país a exigências externas.
O 10 de Junho começou por ser Dia de Camões, e afirmação da nossa Língua e Cultura e tornou-se em afirmação de Portugal e das Comunidades Portuguesas e celebração dos Encontros Nacionais de Combatentes, de cuja Comissão de Honra me orgulho de fazer parte.
Num cenário de não poder respeitar as duas datas, opto por manter o 1º. de Dezembro, porque para além do seu próprio significado, haveria oportunidade para honrar os Combatentes que ao longo dos séculos o tornaram possível, invocar a Cultura que Portugal soube, por isso, edificar e homenagear as Comunidades que nos continuam no mundo. Difícil seria apelo de igual abrangência no 10 de Junho.
Os feriados não pertencem aos Governos mas sim aos Povos e no grave transe que o nosso país atravessa, com acentuada crise de princípios, não se afigura útil eliminar datas que são de reconhecimento da nossa História e dos nossos valores quase milenares, afirmados por gerações sucessivas de Portugueses desde o 5 de Outubro de 1143.
Dom Duarte de Bragança
Sintra, 20/12/2012
AUDIÊNCIA COM "MONÁRQUICOS SOLIDÁRIOS"
S.A.R., Dom Duarte de Bragança, Helena Maria Marques, Maria da Câmara Aguiar e Lopo Maria de Albuquerque.
Conforme noticiado no Blog Família Real Portuguesa, os Monárquicos Solidários foram ontem recebidos em audiência por S.A.R., O Senhor Dom Duarte.
Foi entregue à Fundação D. Manuel II um cheque com o total recolhido por esta campanha "Somos a família para os que não têm família" no total de 2.250,77€ tendo em seguida Sua Alteza Real entregue um cheque para ser entregue à Obra do Padre Américo no valor total de 2.550,00€ ou seja a Fundação Dom Manuel II através de Sua Alteza Real fez um donativo de 300,00€.
Vamos agora fazer seguir por Correio Azul este cheque para a Casa do Gaiato ao cuidado do Senhor Padre Julio. Em nome das crianças da Casa do Gaiato, agradecemos a todos os que contribuiram a vossa generosidade.
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
ATRIBUIÇÃO DA ROSA DE OURO A S.M., A RAINHA DONA AMÉLIA (1892)
Rosa de Ouro (1): imagem da insígnia e dignitários intervenientes no processo de transporte de Roma para Lisboa. A rosa de ouro oferecida por Sua Santidade, O Papa Leão XIII a Sua Magestade, A Rainha Dona Maria Amélia. Notícia ampliada aqui
Rosa de Ouro: cerimónia da entrega da Rosa de Ouro à Rainha Dona Amélia na Capela do Paço das Necessidades em 1.7.1892.
Fonte: O Occidente n.º 488, de 11.7.1892. Para ampliar: aqui
Para ler: aqui
Para ler: aqui
Virtual Memories
domingo, 18 de dezembro de 2011
OS REIS SÃO ELEITOS TODOS OS DIAS
Gonçalo Ribeiro Telles: “Talvez os governantes queiram destruir o país”. Ribeiro Telles diz que não percebe a estratégia do governo. “Dá a sensação que não conhecem o país”, afirma.
(...) Já fundou partidos ligados à terra e em defesa da monarquia. Há ligação entre estas duas causas?
Há sempre uma ligação. A nossa história é uma construção através de um regime monárquico e essa ligação à história e à continuidade perdeu-se. E nesse sentido há de facto um recuo enorme, que permitiu depois uma visão diferente do futuro. Quando a monarquia existia havia sempre um futuro na sequência da dinastia.É essa a vantagem que vê na monarquia?
É essa a grande vantagem. Isso dá um somatório de uma cultura que é muito difícil de arrancar. Só à força é que se arranca. É o que está a suceder. Há a saudade dessa continuidade.
Os portugueses têm saudades da monarquia. Acha isso?
Dessa continuidade com certeza, porque isto é um país inventado e construído. Construído com as condições que tinha de mar, de terra, de solos e inventado pelo género português.
O caminho teria sido outro com uma monarquia?
Tínhamos seguido um caminho mais paralelo dos países escandinavos.
Os reis não são eleitos. Não é um bom argumento a favor da República?
Os reis são eleitos todos os dias. (...)
Entrevista na íntegra no Jornal i, - 17 de Dezembro de 2011
EU QUERO UM REI!
Nas palavras do historiador Jacques Monet: "Um Rei é Rei, não por ser rico e poderoso, não por ser um político bem sucedido, nem por pertencer a uma determinada ortodoxia ou grupo nacional. Ele é Rei porque nasceu. E, ao deixar a selecção do seu Chefe de Estado a este denominador mais comum do mundo - o acidente do nascimento - [o povo], implicitamente, proclama a sua fé na igualdade da condição humana; a sua esperança pelo triunfo da natureza sobre a manobra política, sobre interesses financeiros e sociais; pela vitória da pessoa humana."
DA DEMOCRACIA E DA NECESSIDADE DE UMA CULTURA DE SERVIÇO
A democracia é, como se costuma dizer, o pior regime exceptuando todos os outros. É naturalmente melhor do que qualquer regime oligárquico, tirânico ou autoritário. Na sua acepção ideal, tem como grandes virtudes a liberdade de expressão, a aspiração à difusão de oportunidades e igualdade no acesso à educação, permitindo ainda aos indivíduos e à sociedade civil ter um papel determinante na condução da política e da vida pública, ao passo que o aparelho estatal assenta teoricamente numa separação de poderes e num sistema de checks and balances como forma de evitar que exista qualquer poder incontrolado, porque como ensinava Karl Popper, o importante em democracia não é saber quem manda mas como controlar o poder de quem manda.
Porém, a democracia tem o condão de poder degenerar, tal como tem vindo a acontecer em Portugal, numa ditadura da maioria (a mais das vezes medíocre, bastando olhar para os imensos exemplos de políticos portugueses), e num regime tendencialmente oligárquico – confirmando a Lei de Ferro da Oligarquia formulada por Robert Michels – subjugado por interesses mais ou menos desconhecidos – as coligações de interesses organizados que Friedrich A. Hayek apontava como um dos factores responsáveis pela perversão da democracia.
O regime actual padece de graves falhas que ao nível político estão cada vez mais visíveis, funcionando cada vez pior. Desde logo, a arquitectura do aparelho estatal, com um regime híbrido e com poderes muito pouco separados, contando com um Presidente da República com poucos poderes, um Primeiro-Ministro que é sempre um potencial ditador se tiver uma maioria absoluta no parlamento, um parlamento com deputados completamente reféns dos partidos pelos quais são eleitos e que mais não é do que a casa não da democracia mas da falta de sentido de estado e ausência de dedicação à causa pública, sem falar no cada vez mais kafkiano sistema de justiça.
Os partidos políticos, por seu lado, tornaram-se reféns das coligações de interesses organizados com as quais os políticos são forçados a negociar e das quais depende em grande medida o seu apoio e sustentação política, ocorrendo, na realidade, uma distorção do que deve ser o interesse público, na medida em que os partidos não estão unidos por verdadeiros princípios políticos e sujeitam-se aos interesses dos grupos de pressão que são efectivamente capazes de se organizar a ponto de preponderarem sobre outros que não se conseguem organizar de forma tão eficaz. Isto distorce a alocação de recursos, que é feita pelo poder político sem quaisquer referências a princípios de justiça, igualdade ou eficiência, consubstanciando o que José Adelino Maltez costuma referir como uma economia privada sem economia de mercado.
A virtude da democracia é refrear os ímpetos autoritários e ditatoriais, aceitando e defendendo o conflito e institucionalizando regras para este. A negociação e o compromisso têm de ser constantes em qualquer democracia saudável. Em Portugal, contudo, os políticos preferem não ter freios ao poder, impor as suas opiniões e decisões pela força da soberania popular expressa nos actos eleitorais e governar como se fossem ditadores – tudo em nome da estabilidade e da governabilidade, como se fosse possível eliminar a instabilidade e o conflito inerentes à democracia.
Temos assim um ambiente político exasperante, em que a política é encarada como o futebol, com clubes e as suas respectivas claques compostas por elementos que, na sua esmagadora maioria, se preocupam essencialmente com a baixa política intriguista e interesses que pouco ou nada têm a ver com a causa pública. Falta-nos uma cultura de serviço, que nos permita transcender-nos no que à governação diz respeito, fazendo cumprir Portugal através da prossecução de uma política assente no respeito por todos os portugueses, e não apenas por interesses que distorcem o funcionamento da democracia, colocando-a em causa. Não podendo enveredar por uma nova campanha de Descobrimentos, tendo sido a religião arredada do espaço público em virtude do jacobinismo republicano que grassa no país desde a I República, há apenas uma mudança política que pode revitalizar moralmente o país e contribuir para uma substancial regeneração do mesmo: a restauração da monarquia. Só esta permitirá que nos sintamos mais coesos enquanto nação, e que tenhamos verdadeiramente um espírito de missão na prossecução das nossas vidas, com a certeza de contribuirmos para algo muito superior a qualquer um de nós mas, contudo, essencial para as nossas vidas e para o país.
Samuel de Paiva Pires - (Artigo publicado no n.º 6 do Correio.Real, editado pela Real Associação de Lisboa).
sábado, 17 de dezembro de 2011
O PRÍNCIPE "MELANCOLIA"
Mais uma vez ao ver um livro com fotos de obras de Malhôa, parei a olhar um que desde garota me impressiona.
Hoje, admiro-lhe a técnica, a cor, a precisão dos pormenores. Dantes via um Príncipe de conto de fadas, lindo e com uma história triste. Talvez porque a minha avó contava coisas dele. Dizia ela que não havia menina casadoira que não estivesse apaixonada pelo Príncipe. Algumas traziam o retrato dele num medalhão pendurado ao pescoço.
É, nesse tempo, sem artistas de cinema para amar, as meninas tinham grandes paixões platónicas pelo Príncipe.
Príncipe Luiz Filipe, Retrato de José Malhoa (1891) |
Malhôa pintou-o em criança e voltou a pintá-lo já homem. Parece que o Rei Dom Carlos, não terá gostado muito do retrato, pelo ar triste do filho. Chamou-lhe “Príncipe Melancolia”.
Nasceu em Lisboa a 21 de Março de 1887, filho de Dom Carlos e de Dona Amélia, era o Herdeiro do Trono, de Portugal. Teve uma educação esmerada, sendo seu preceptor Mouzinho de Albuquerque. Fez uma viagem às então colónias portuguesas de África, onde, ao que se diz, terá sido recebido com grande entusiasmo. Além de belo e culto, era simpático e aberto.
O Príncipe Real Dom Luís Filipe em visita a Angola, com o Governador-Geral, Henrique de Paiva Couceiro (Luanda 1907). |
Voltou para Portugal e pouco tempo depois, deu-se a tragédia do Terreiro do Paço. A 1 de Fevereiro de 1908, aos vinte e um anos incompletos, o Príncipe foi assassinado juntamente com o Pai. Ainda matou um dos assassinos, mas também ele caiu varado pelas balas. Assim tristemente, acabou a história do Príncipe "Melancolia".
Será que essa melancolia já era pronuncio do fim tão prematuro? Só ele o saberia.
O quadro encontra-se nas Caldas da Rainha, no Museu José Malhôa, num recanto mal iluminado.
Mal recebido pelo Rei, retrato fiel do pobre Príncipe, o quadro parece ter a mesma sorte: esquecimento. O mesmo esquecimento que o retratado. Um, morto, esquecido até nos manuais de História. O outro, relegado para um canto, como se fora obra menor do autor.
Eu vou continuar a ir vê-lo sempre que voltar às Caldas. Porque desde que o vi a primeira vez, todos os Príncipes de todas as histórias da minha avó, tinham para mim, o rosto e a figura do “Príncipe Melancolia”, Dom Luís Filipe.(...)
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
CERIMONIAL DA RECEPÇÃO PÚBLICA À RAINHA DONA MARIA PIA DE SABOYA (1862)
Ministério dos Negócios do Reino
Direcção-Geral de Administração Política, 1.ª Repartição
Sendo indispensável prescrever o cerimonial com que se deve realizar a recepção pública da Rainha, minha muito amada e prezada esposa, na sua próxima chegada ao porto de Lisboa; e bem assim a ratificação e bênçãos do consórcio real, já contraído por procuração na corte de Turim: hei por bem que aquele cerimonial seja regulado pelo programa, que faz parte deste decreto, e com ele baixa assinado pelo ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Reino. O mesmo Ministro e Secretário de Estado o tenha entendido e faça executar.
Paço, em 29 de Setembro de 1862. Rei [D. Luís I]. Anselmo José Braamcamp.
Programa
I- Para solenizar o consórcio real haverá cinco dias de grande gala na corte, com suspensão de serviço nas repartições do estado, onde por ocasiões idênticas é costume semelhante prática.
As fortalezas de mar e terra e os navios de guerra portugueses darão as salvas do estilo.
Serão permitidas as iluminações, os repiques de sinos e quaisquer outras demonstrações de regosijo público.
II- O primeiro dia de gala será o da chegada de Sua Majestade a Rainha, destinado para a mesma augusta senhora receber, a bordo da corveta que a conduz, a visita da família real.
O segundo sai será do desembarque de Sua Majestade a Rainha para a sua entrada solene em Lisboa, e para a celebração das cerimónias da ratificação do real consórcio e bênçãos nupciais.
No terceiro dia à noite tencionam Suas Majestades honrar com a sua Augusta presença o teatro nacional de Dona Maria II.
No quarto dia, Suas Majestades receberão no Paço da Ajuda, pela uma hora da tarde, as felicitações do corpo diplomático, e seguidamente as homenagens da corte, tribunais, câmaras municipais de Lisboa e Belém, e mais corporações e pessoas que costumam ser admitidas a semelhantes solenidades.
À noite, irão Suas Majestades assistir à representação lírica no teatro de S. Carlos.
No quinto dia, Sua Majestade El-Rei passará revista a todas as tropas formadas em grande parada no Campo Pequeno.
III- Sua Majestade a Imperatriz do Brasil, viúva, Duquesa de Bragança, e Sua Alteza Real e Sereníssima Senhora Infanta D. Isabel Maria, serão convidadas para assistirem a todas as festividades do consórcio real.
IV- Em se anunciando telegraficamente estarem à vista as embarcações que conduzem Sua Majestade a Rainha e o séquito respectivo, sairá Sua Alteza Real o Sereníssimo Senhor Infante Dom Augusto a cumprimentar Sua Majestade, em nome de El-Rei, sendo acompanhado do ministro da Marinha e dos oficiais mores da Casa Real em exercício, e dos que, da parte das outras pessoas reais, tiverem sido encarregados de apresentar as suas felicitações à mesma Augusta Senhora.
V-Assim que Sua Majestade chegar à foz do Tejo, as torres de S. Lourenço e S. Julião da Barra, e todas as outras fortalezas e os navios de guerra darão uma salva real.
Além destas salvas gerais, cada uma das fortalezas dará, por seu turno, uma salva de continência quando pela frente delas passar a corveta real. Nos vasos de guerra, embandeirados de gala, haverá conjuntamente com estas demonstrações as do estilo, dadas pelas equipagens sobre as vergas.
VI- A corveta fundeará em frente ao cais de Belém.
Nessa mesma ocasião Sua Majestade El-Rei, acompanhado de toda a Família Real, e seguido de uma guarda de honra de cavalaria, sairá do Paço da Ajuda para aquele cais.
Ali estará preparada a galeota, em que El-Rei há-de embarcar com a Família Real, a fim de irem a borda da corveta visitar pessoalmente Sua Majestade a Rainha.
No trânsito para a corveta Sua Majestade El-Rei será acompanhado pelo Ministério, pelo Conselho de Estado e pelos oficiais mores da Casa Real, em escaleres do estado.
Estes dignitários serão oportunamente admitidos a prestar as suas homenagens a Sua Majestade a Rainha.
Quando Sua Majestade El-Rei embarcar na corveta, e quando dali sair para terra, as fortalezas e navios do estado darão uma salva real.
VII- No dia seguinte, pelas nove horas e meia da manhã, a corveta levantando ferro, virá ancorar em frente ao cais das Colunas.
Nesse dia, terá lugar a entrada e recepção pública de Sua Majestade a Rainha em Lisboa, desde o lugar do desembarque na praça do Comércio até à igreja do extinto convento de S. Domingos, destinada para a celebração das cerimónias religiosas dos desponsórios reais, e desde aquele templo até ao Paço da Ajuda.
À entrada da praça do Comércio, entre o cais das colunas e a estátua equestre, haverá um pavilhão para Suas Majestades receberem as felicitações da câmara municipal de Lisboa.
No ministério da Fazenda [Finanças] será devidamente preparada uma tribuna para as pessoas reais, que, não tomando lugar no pavilhão, quiserem presenciar dali o desembarque de Sua Majestade a Rainha.
Todos os edifícios públicos da praça do Comércio serão decorados de modo correspondente a esta solenidade.
As janelas do andar nobre mais próximo à tribuna real serão destinadas para o corpo diplomático.
As outras janelas do mesmo pavimento serão ocupadas pelas pessoas da corte, dos tribunais e repartições públicas, que não puderem concorrer ao cortejo real, e pelas senhoras de suas respectivas famílias.
Aos lados do pavilhão haverá galerias para serem presenciadas as cerimónias da recepção de Sua Majestade a Rainha pelas pessoas a quem a câmara municipal ali conceder lugares.
VIII- Os corpos militares das diversas armas reunidos em Lisboa serão formados nas praças do Comércio e de Dom Pedro, e nas ruas do transito do cortejo, conforme convier ao aparato e serviço das festividades reais.
IX- O transito do cortejo real, desde o Paço da Ajuda até à Praça do Comércio, e desta Praça até à Igreja do extinto convento de S. Domingos, será pela calçada da Ajuda, Rua da Junqueira, Calvário, S. Francisco de Paula, Janelas Verdes, Boa Vista, S. Paulo, Travessa dos Romulares, Cais do Sodré, Rua do Corpo Santo em direitura à do Arsenal, Praça do Comércio, Rua do Oiro, Praça de Dom Pedro pelo lado ocidental, e frente ao teatro de Dona Maria II até ao templo de S. Domingos.
Da igreja de S. Domingos até ao paço da Ajuda o cortejo regressará pelo lado oriental da praça de D. Pedro, rua Augusta e praça do Comércio, rua Direita do Arsenal, e as outras ruas já mencionadas.
X- O cortejo real será composto de catorze coches de estado e das carruagens da corte, tribunais e corporações, funcionários superiores e mais pessoas que na ordem civil, militar e eclesiástica costumam assistir às funções reais.
No cortejo será guardada a seguinte ordem:
À frente do cortejo marchará um piquete de soldados a cavalo servindo de batedores;
Logo os porteiros da cana, os reis de armas, arautos e passavantes a cavalo, vestidos [com librés], acompanhados e descobertos e com as insígnias correspondentes à sua graduação, segundo os estilos da corte, e todos precedidos de quatro moços da estribeira;
As carruagens das pessoas e funcionários não pertencentes à corte, nem aos tribunais ou corporações;
As carruagens das corporações e tribunais;
A carruagem do governador civil do distrito de Lisboa;
As carruagens da corte, a saber, as dos barões e viscondes, ministros e secretários de estado honorários, oficiais mores honorários e efectivos, dignitários não titulares com honras de grandeza, barões e viscondes com honras de grandeza, bispos e condes, arcebispos e marqueses, duques, conselho de estado e ministério [conselho de ministros].
Os catorze coches de estado, em o último dos quais irão Suas Majestades.
Este coche, tirado a oito cavalos, será guarnecido por ambos os lados com triplicadas alas de moços da real câmara, archeiros e moços da estribeira, todos a pé, indo a cavalo dois ferradores com pasta [estojo de ferramentas].
Ao lado de cada um dos cavalos do tiro irá um criado a pé.
Junto à portinhola do coche, do lado direito, tomará lugar, a cavalo, o comandante da guarda real, acompanhado de criados a pé; e à portinhola do lado esquerdo irá o general comandante da força militar, e a guarda de honra composta de toda a cavalaria existente em Lisboa.
XI- Suas Majestades e Altezas sairão do paço da Ajuda para o lugar do desembarque de Sua Majestade a Rainha às nove horas e meia da manhã, o que será anunciado por uma salva real de artilharia.
No cortejo, desde o paço até à praça do Comércio, irão somente os coches de Estado.
Quando o cortejo chegar em frente da embocadura da rua do Oiro, entrará logo no quadro central da praça do Comércio do lado ocidental; e voltando na altura conveniente para a estátua equestre, aí, entre esta e o pavilhão, se apearão Suas Majestades e Altezas e toda a real comitiva, devendo os coches ir postar-se em duas linhas unidas na rua oriental da praça [rua da Prata].
Suas Majestades e Altezas serão recebidos no pavilhão pela corte e tribunais, pela Câmara Municipal [de Lisboa] e mais corporações, e por todas as pessoas do cortejo, as quais, para esse fim, deverão ali achar-se às dez horas.
As carruagens com esse destino entrarão todas na Praça do Comércio pelo mesmo lugar designado para a entrada dos coches de estado; e deixando junto do pavilhão as pessoas que conduzirem, sairão pelo lado oriental para a rua Nova da Alfândega. As que concorrerem depois das nove horas e meia não terão acesso à praça.
XII- Desde o pavilhão até ao embarcadouro no cais das Colunas estarão postados em duas linhas os archeiros da guarda real, por entre as quais se formarão em alas as pessoas do cortejo.
No mar, desde o embarcadouro até à corveta real, haverá alas formadas de embarcações do estado e de pessoas particulares, que queiram associar-se deste modo para assistirem ao acto solene do desembarque de Sua Majestade a Rainha.
A oficialidade de marinha, sob as ordens do inspector do Arsenal, é encarregada de prover à formação das alas no mar, e a toda a polícia do porto com o objecto de facilitar o transito real.
XIII- Sua Majestade El-Rei, acompanhado de toda a sua Augusta Família, embarcará na galeota para ir buscar a Rainha a bordo da corveta.
Ao embarcar a família real na galeota, salvarão o castelo de S. Jorge e os navios de guerra, devendo a corte acompanhar Sua Majestade entre alas, na ida para a corveta e na vinda para terra.
XIV- Depois de Sua Majestade El-Rei haver saudado a Rainha a bordo da corveta real, descerá conjuntamente com a mesma Augusta Senhora para a galeota.
Quando Suas Majestades largarem da corveta, e a Rainha puser o pé no solo de Portugal, será anunciado a toda a cidade tão fausto acontecimento com salvas gerais de artilharia.
XV- No acto do desembarque, Suas Majestades serão recebidas debaixo do palio pela Câmara Municipal de Lisboa.
Rodeados pela côrte e mais pessoas do cortejo, Suas Majestades e Altezas entrarão no pavilhão real, tomando assento no trono ali levantado para receberem as homenagens da Câmara Municipal da muito nobre e sempre leal cidade de Lisboa, em seu próprio nome e no de todo o Município.
O Presidente desta corporação, sendo oportunamente prevenido pelo Ministro e Secretário de estado dos Negócios do Reino, dirigirá a Suas Majestades as felicitações que houver de apresentar-lhes por ocasião tão festiva.
Logo, em acto seguido, o mesmo Presidente da Câmara fará a cerimónia da entrega das chaves da cidade a Sua Majestade El-Rei o Senhor D. Luís I, o que, tomando-as da salva de prata dourada, em que lhe hão-de ser apresentadas, tenciona oferecê-las de sua régia mão à Rainha, sua Augusta esposa, e confiá-las depois novamente à Câmara Municipal mediante as palavras que o mesmo Augusto Senhor houver por bem dispensar-lhe.
XVI- Acabadas as cerimónias da recepção da Rainha pela Câmara Municipal, Suas Majestades e Altezas sairão da praça do Comércio após o cortejo real, que formado conforme as regras estabelecidas no artigo 10.º deste programa, seguirá pela Rua do Oiro, lado ocidental da praça de Dom Pedro, e frente ao teatro de Dona Maria II, para a igreja do extinto convento de S. Domingos, onde as pessoas do cortejo se hão-de apear à porta principal do templo, passando logo, dentro dele, a formar préstito para a recepção de Suas Majestades e Altezas.
As carruagens e coches de estado, em deixando as pessoas que conduzirem à porta principal do templo, seguirão em frente pela rua Nova de S. Domingos para se irem postar nas ruas adjacentes.
XVII-Na capela-mor do templo, que será ornado com a devida magnificiência, estarão dispostos:
O trono, da parte do evangelho, para os augustos desposados e pessoas reais que os tiverem acompanhado no cortejo;
A tribuna real, defronte do trono, para quaisquer outras pessoas reais ou príncipes estrangeiros que porventura venham assistir às solenidades do consórcio real;
O solio e a cadeira gestatória para o patriarca, capelão-mor da casa real, que há-de oficiar com o cabido patriarcal nas cerimónias religiosas;
As cadeiras e assentos necessários para os altos dignitários de estado e grandes do reino, e lugares reservados para as damas do paço e mais senhoras da corte que concorrem à função.
No cruzeiro do templo, junto da capela-mor haverá:
Uma tribuna para o corpo diplomático e senhoras da sua família;
Uma tribuna para as pessoas da corte que não couberem na capela-mor, para os tribunais e mais corporações do estado, para o governador civil de Lisboa, e para o comandante em chefe da força militar que assistir a esta festividade e mais generais, empregados superiores e senhoras de suas famílias.
No pavimento do cruzeiro, junto aos cancelos da capela-mor, tomará lugar a câmara municipal de Lisboa nas cadeiras da municipalidade, seguindo-se de um e outro lado do mesmo cruzeiro as pessoas do cortejo que não tiverem tomado assento em outra localidade.
As naves do templo serão ocupadas por quaisquer outras pessoas que concorrem a esta festa.
O coro no fundo do templo é destinado para a música da capela e Casa Real.
XVIII- Suas Majestades e Altezas entrarão no vestíbulo do templo debaixo de um palio sustentado pelos vereadores da câmara municipal, e serão recebidos à porta principal, debaixo de outro palio, pelo patriarca e cabido com as cerimónias e orações do costume.
Desde a entrada do templo até à capela-mor caminhará ordenadamente o préstito entre duas alas de archeiros da guarda real.
Atrás e ao lado de Suas Majestades e Altezas irão o camareiro-mor, gentis homens e ajudantes de campo, a camareira-mor e as damas de serviço, exercendo suas respectivas funções junto dos mesmos augustos senhores.
XIX- Em chegando à capela-mor, Suas Majestades e Altezas tomarão lugar no trono.
O patriarca capelão-mor dará princípio, desde logo, às preces e orações da festividade religiosa, terminadas as quais mandará celebrar missa pró sponsa et sponso, ou a que for própria do dia em relação ao rito da igreja.
Acabada a missa, o Patriarca descerá do solio à cadeira gestatória colocada em frente do altar-mor.
Por esta ocasião os augustos esposos, acompanhados das pessoas reais presentes, dando a mão um ao outro, irão apresentar-se ante o prelado, o qual se levantará ao aproximarem-se Suas Majestades.
O prelado, depois de uma profunda vénia a Suas Majestades, fará os devidos interrogatórios a El-Rei e à Rainha sobre a ratificação do seu real consórcio celebrado por procuração na corte de Turim, no dia 27 de setembro corrente, devendo receber as declarações que os mesmos Augustos Senhores lhe fizerem na presença das testemunhas para esse acto nomeadas.
Em seguida subirá o prelado ao altar-mor, e dali, em canto festivo, lançará as bênçãos nupciais sobre os régios cônjuges, os quais, para as receberem, estarão de ajoelhados em frente do mesmo altar.
Depois desta cerimónia Suas Majestades e Altezas voltarão ao trono, e o prelado, passando ao solio, entoará em canto solene o hino Te Deum Laudamus, que será continuado pela orquestra e cantores da capela da Casa Real.
Seguidamente o prelado rezará as orações do estilo, concluindo as cerimónias com a bênção final.
XX- Acabada a função religiosa, Suas Majestades e Altezas, acompanhados processionalmente até à porta do templo pelo prelado e cabido, e sendo precedidos do real préstito, segundo a ordem e cerimonial da recepção, subirão aos coches de estado para se dirigirem à praça do Comércio, a fim de aí receberem a continência das tropas.
Com este intuito Suas Majestades e Altezas, acompanhados do real cortejo, na mesma ordem estabelecida pelo artigo 10.º deste programa, seguirão pelo lado oriental da praça de Dom Pedro, Rua Augusta, até ao arco triunfal, e entrando em frente dele no quadro do centro da praça do Comércio, voltarão logo pelo lado ocidental do mesmo quadro até ao pavilhão, e aí serão recebidos pela côrte e tribunais, pela Câmara Municipal e mais corporações, e pelos empregados superiores.
À porção que as tropas houverem passado em continência na presença de Suas Majestades, irão elas desfilando para quartéis na Rua da Prata, exceptuando a cavalaria, que faz a guarda de honra de Suas Majestades.
Logo que as tropas acabem de sair da Praça do Comércio, Suas Majestades e Altezas, precedidos somente dos coches de estado, regressarão ao paço da Ajuda, acompanhados da guarda de honra.
À entrada e à saída do templo, as fortalezas e navios de guerra salvarão a Suas Majestades.
XXI- Para o exacto cumprimento do presente programa empregarão todo o cuidado e diligência os oficiais mores e autoridades competentes, a saber:
O duque mordomo-mor expedirá as ordens necessárias para que as pessoas reais e príncipes estrangeiros sejam recebidos nas tribunas que lhes estão destinadas, com as atenções devidas à sua alta jerarquia, designando além disso os criados da casa real e moços fidalgos que forem precisos para o serviço da corte em todas as festividades do régio consórcio.
O Marquês Estribeiro-Mor fará aprontar os coches de estado e ordenar o préstito real com a maior regularidade; devendo ser para isso coadjuvado por dois oficiais de cavalaria da guarda municipal com as ordenanças respectivas.
O Duque Comandante da guarda real mandará postar convenientemente os soldados do seu comando nos lugares destinados para as festividades do régio consórcio, fazendo previa designação dos que devam auxiliar os oficiais mores e os criados da casa real que por essa ocasião estiverem incumbidos do cerimonial da côrte.
O Marquês Mestre-Sala proverá a todos os actos do cerimonial da côrte na festividade religiosa da ratificação do consórcio real no templo de S. Domingos, sendo para isso coadjuvado pelos criados da Casa Real, pelos moços fidalgos e os archeiros necessários para a formação do préstito que há-de receber e acompanhar Suas Majestades e Altezas dentro da Igreja; para a recepção do corpo diplomático na respectiva tribuna; para a distribuição e colocação da corte, tribunais, corporações e mais pessoas que tiverem feito parte do cortejo real; e para todo o serviço tendente a manter a ordem e regularidade desta solene função.
O conde porteiro-mor exercerá as mesmas atribuições nos actos solenes do desembarque da Rainha, no cais das Colunas, e da sua recepção pela câmara municipal no pavilhão real da praça do Comércio.
O Marquês Reposteiro-Mor há-de descobrir as cadeiras destinadas para Suas Majestades se assentarem no trono, e chegar as almofadas quando os mesmos Augustos Senhores tiverem de ajoelhar.
Os oficiais-mores de serviço desempenharão iguais funções junto das outras pessoas reais.
A camareira-mor sustentará a cauda do manto real de Sua Majestade a Rainha.
O Governador Civil, no dia destas festividades, fará exercer, com a maior pontualidade, toda a polícia das carruagens e de quaisquer outros veículos que hajam de percorrer as ruas e praças do transito do cortejo real e ruas adjacentes.
O mesmo Governador Civil regulará este serviço por meio de editais, em conformidade das instruções do ministério do Reino, reclamando da guarda municipal a força necessária para a fiel e exacta observância das providências policiais que lhe cumpre adoptar.
Paço, em 29 de Setembro de 1862.
Anselmo José Braamcamp.
[Publicado no Diário de Lisboa n.º 221, 3.ª feira, de 30.9.1862, pp. 2413-2414]
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