«Se algum dia mandarem embora os reis vão ter de voltar a chamá-los» - Alexandre Herculano. Já foi dito que nenhuma menina sonha ser filha do presidente de uma república, e que todas as crianças brincam e imaginam príncipes e princesas. Por muito que se destronem ou assassinem reis, é difícil matar o arquétipo. Quando há pouco tempo o Palácio de Belém, em Lisboa, foi aberto ao público, uma cidadã entrevistada para a RTP exclamou o mais sinceramente possível que se ali vivesse, se sentiria uma rainha. Quem se lembraria de dizer primeira-dama?
O arquétipo rei/rainha não morre às mãos dos regicidas, nem da necessidade dos republicanos de criarem «monarquias transitórias», onde eles próprios possam ser, durante algum tempo, reis e rainhas a fingir. A humanidade pauta-se por períodos de depauperamento simbólico, para utilizar uma expressão de Jung. Talvez o regime republicano seja um desses «momentos»; regime, aliás, que tudo faz para eliminar os símbolos régios que sabe serem muito mais poderosos que a legislação. Em Portugal, a mudança de bandeira, do centenário e velho azul para a arrepiante combinação verde/rubra foi o seu mais profundo golpe na memória dos portugueses. Mas dificilmente conseguirá arredar do inconsciente colectivo as imagens do rei/pai e da rainha/mãe.
Casa de Rei nunca anda a pedir;
El-Rei tem costas;
Mulher que assobia e galinha que de galo canta, manda el-Rei que lhe corte a garganta;
Na terra dos cegos, quem tem um olho é rei;
O rei manda marchar, não manda chover;
Onde não há, rei perde;
Palavra de Rei não volta atrás;
Rei morto, rei posto;
Sem rei nem roque;
Amor e reino não querem parceiro;
Minha casa, minha casinha, eu para rei e tua para rainha;
Bom rei, se quereis que vos sirva, dai-me de comer;
Rogos de rei, mandados são;
Conselho de amigo, vale um reino;
Antes bom rei, que boa lei;
Um rei é uma coisa que obedece;
Os reis nunca morrem;
A teu rei nunca ofendas, nem lances em suas rendas;
Fraco rei faz fraca gente;
Qual o rei, qual a grei;
Ter rei é ter renda;
Um rei injusto é a calamidade de um povo;
Onde está o rei, está a corte;
Do rei, ou muito perto ou muito longe;
Nunca falta rei que nos governe, nem Papa que nos excomungue;
Rei por natureza, Papa por ventura, rei das abelhas não tem aguilhão;
Vão as leis onde querem os reis;
Não peques na lei, não temerás rei;
Palavra de rei é escritura;
Soldado doente não serve el-rei;
O rei deve ser teriaga contra a mentira;
Os reis, quanto mais perdoam, mais reis são;
Rei se nomeie, quem não teme;
Ninguém é rei na sua terra;
O rei faz fidalgos mas não dá fidalguia;
Trunfo e rei, é compra de lei;
Os maus são os camaleões do rei;
Vontade de rei não conhece lei;
Rei desarmado não tem seguro o seu Estado;
Em almas, não há rei que mande;
A cabo de cem anos, os reis são vilões; e a cabo de cento e dez, os vilões são reis;
A História é o livro dos reis;
Texto publicado por Nuno Resende em Quinta-feira, Dezembro 10, 2009
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