José Campos e Sousa é a voz portuguesa, fiel a uma certa ideia de Portugal que não se deixou vencer pela censura, pelas modas de um tempo de crepes e rendições. Nunca se lhe conheceu o mais leve atrevimento, nunca abdicou da sua condição de monárquico e patriota, nunca deixou de cantar os temas proibidos que fatalmente lhe ditariam o ostracismo daqueles que, invocando sempre a liberdade, são os polícias do espírito, os pina-maniqueiros das listas negras, os abarbatadores de prémios. Tem sido, desde os anos 70, a expressão da liberdade, mas também caso único de perseverança na defesa do imenso património literário de cunho vincadamente português que os baladeiros do protesto fingido quiseram substituir pelas cantilenas marxistóides.
Tivemo-lo como animador numa sessão da Nova Monarquia no Teatro S. Luís em meados da década de 80. Sala cheia e entusiasta, patriotismo transbordante. Esse tempo passou; aliás, foi implacavelmente assassinado por gente que se dizia monárquica, mas que então vivia derrancada na adoração do mais deslavado servilismo esquerdista. A Nova Monarquia foi caso único de um movimento de ideias, patriótico, nacional e democrático, não extremista e anti-totalitário, que poderia ter evoluído para partido político e, assim, antecipar o futuro. Ainda hoje, reencontrando muitos daqueles que connosco militaram nesse movimento patriótico, não deixo de pensar no que teria podido ser a NM se a nossa direita, sempre tão incapaz, sempre iletrada, nos tivesse dado o apoio de que necessitávamos. A NM pensava a CPLP dez anos antes da sua génese, promovia actos públicos de apoio à independência de Timor, quando todos se resignavam à colonização indonésia, pedia a atribuição da dupla cidadania a cabo-verdianos e a todos os ex-soldados negros que haviam lutado por Portugal, pedia uma câmara alta que pudesse minorar os efeitos do amadorismo da partidocracia, pedia o sistema uninominal, personalizado e responsável para a Assembleia da República, reclamava um poder local profissionalizado que evitasse a destruição da paisagem portuguesa e o apossamento da vida municipal por quadrilhas de malfeitores. Mais, pedia a adesão de Marrocos à então Comunidade Económica Europeia, defendia o Serviço Militar Obrigatório, a defesa da presença fiscalizadora do Estado em sectores vitais da vida colectiva - ensino, saúde, águas, energia, planeamento urbano - e optava, sem titubeios, por um plano nacional de desenvolvimento, opondo-se à terceirização (vulgo PPP's) e advogando a mudança de pele da estrutura económica produtiva mercê da fixação prioritária na agricultura e nas empresas produtivas. Ninguém nos quis ouvir. Portugal viveu, nos anos 80 e 90, sob o signo do dinheiro, dos "negócios" e do "empreendedorismo". A NM surgia aos dos entusiastas dos saltos em frente como a expressão do passado. Estavam enganados e o resultado está à vista!
Miguel Castelo-Branco
Miguel Castelo-Branco
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