sexta-feira, 27 de março de 2009

NÓS E A NOSSA HONRA

Nuno Pombo *
Como já alguém disse, antigamente o futuro era muito melhor. Não é apenas a agudeza de uma crise global que se agiganta, acicatada por interesses que seguramente dela hão-de extrair o melhor proveito, que nos interpela. Tempos difíceis, mesmo entre nós, já houve e sempre encontrámos as energias bastantes para nos erguermos colectivamente. Com o nosso engenho e a nossa arte, com o nosso improviso, reflexo afinal de uma proverbial impreparação, sempre fomos vencendo as dificuldades presentes para galoparmos, velozes, rumo aos obstáculos seguintes, em frente dos quais nos deteremos a pensar em nós, no que fomos e no que podíamos ter sido. Agora, o cenário e o diagnóstico não serão substancialmente diversos, mas temo que as conclusões de outrora se não imponham.
Portugal sempre foi um misto de glória e de escombros. Um país, que não deixando de estar em construção, apresenta sinais claros de decadência. Um Estado simultaneamente futurista e retrospectivo.
Hoje, Portugal quer caminhar mas esquece-se de fincar os pés no chão. O país já não navega. Nem sequer caminha. Salta. Vai pulando erraticamente ao sabor do que pensa serem os últimos gritos da modernidade. Em jeito de confissão do arcaísmo mais pungente, pontuamos a nossa agenda política com “boutades” de todo o jaez, mas sempre terceiro-mundistas. Querermos ser mais vanguardistas do que os pós-modernistas é bem o sinal do nosso atraso intelectual. Até escasseiam as elites. Rareia o escol, vítima de uma escola medíocre, palco de todos os experimentalismos que não inspirem a menor exigência. Que pais são estes que secundam o ócio estudantil dos seus pequenos diabretes e futuros desempregados? A situação é de tal ordem, que vai deixando de ser notícia o aluno que sova a “stôra”. Novidade, agora, haverá quando a aluna com a ajuda da sua progenitora (até “mãe” é já politicamente incorrecto), esmurrar o stôr. Que professores são estes que se deixam chamar “stôres”? Que professores são estes que invadem as ruas das cidades rugindo gritos de ordem de alcance pouco perceptível e alguns de educação pouco burilada? Que país é este que se deixa estrangular por camionistas? Que Estado é este que se entretém a castrar os princípios e os valores que fomos legando ao mundo, ao mundo cuja construção fomos dos principais obreiros? Desde quando começámos a achar que em vez de compormos, bom era dançarmos a música que outros tocam? Quando é que deixámos de acreditar que os Estados não podem, nem devem, ter honra?
Na verdade, o que os tempos mostram é já um país privado de coluna vertebral. Servil e acocorado. Refém de prioridades que não são, nem nunca foram, as nossas. Vítima de um internacionalismo pretensamente progressista, capaz de impor facilmente a sua vontade, perante a indiferença e inércia de quantos, e ainda haverá alguns, ainda pensam que não estamos condenados a isto a que nos querem diminuir. Enquanto uns choram o país que já não somos e o mundo que já não temos, outros desconfiarão que ainda podemos ser o Portugal que merecemos.
* Nota: o texto publicado é da exclusiva responsabilidade do autor.
Texto publicado no Diário Digital a 25-Mar-2009
q u i n t a - f e i r a . c o m http://www.monarquia.online.pt A MONARQUIA EM PORTUGUÊS NA INTERNET

Sem comentários: