Dom Duarte de Bragança, actual Chefe da Casa Real
Com a revolução de 1640, restabelece-se a norma jurídica tradicional, com o nascimento de uma nova dinastia. Não há outro período da história portuguesa mais difamado do que o da Dinastia de Bragança, à mercê do ataque impiedoso da historiografia liberal. Quanto mais vivo e leio os autores liberais, mais os acho injustos. Podem ser grandes no domínio literário — Oliveira Martins é um notável escritor, Guerra Junqueiro é um arrebatado poeta —, mas foram todos impiedosos na apreciação dos homens e dos acontecimentos posteriores a 1640. Que visão arbitrária aquela a que foram sujeitos os reis da III Dinastia! D. João IV um pusilânime; D. Afonso VI, um louco; D. Pedro II, um incestuoso; D. João V, um freirático; D. José I, um escravo do seu ministro; D. João VI, um fraco em fuga para o Brasil. Ao fecharmos a História de Portugal de Oliveira Martins, podemos afirmar, como Alberto Sampaio, que mais parece um dobre a finados pela Monarquia portuguesa. Impõe-se mais do que nunca, corrigir os exageros da historiografia liberal. Já o fizeram Caetano Beirão, a respeito de D. Maria I, e o Dr. Hipólito Raposo, na biografia de D. Luísa de Gusmão. Eu próprio, na História de Portugal (…), vou, na minha modéstia, tentando reabilitar esses reis. Não digo que fossem, todos eles, sábios ou de craveira excepcional, mas foram monarcas que asseguraram a independência do País e defenderam com firmeza os foros nacionais. Não seria possível, depois da Restauração, aspirar para Portugal os direitos de uma potência de primeiro plano, condutora do mundo, como nos séculos XV e XVI. Mas os reis da III Dinastia merecem, de facto, ser reabilitados, por tudo quanto fizeram para manter o prestígio do País. A expressão é esta: a Monarquia fez tudo, no meio dos maiores cataclismos, como as Invasões Francesas e as Guerras Civis, para assegurar a permanência de Portugal no Mundo.
A Dinastia de Bragança reúne muitos aspectos positivos: o primeiro é a Restauração em si mesma, que foi uma epopeia na Metrópole e no Ultramar, nomeadamente no Brasil. Só realmente uma nação ainda com uma seiva invulgar poderia fazer o «milagre» de reconquistar Angola, São Tomé e o nordeste do Brasil,às Províncias Unidas, então o Estado europeu mais poderoso, juntamente com a Inglaterra. E tal cruzada só foi viável porque a Nação se pôs incondicionalmente ao lado de D. João IV. E com o apoio da Aliança Inglesa, preciosa nesta fase como nunca, a crise foi debelada, a nova Dinastia reconhecida e a paz firmada com a Espanha em 1668.” Grémio Literário, conferência de 14 de Dezembro de 1982 pelo Prof. Joaquim Verissimo Serrão.
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