Hoje estamos sintonizadas, a carteira e eu. Já vai aprendendo umas coisinhas. O dia 1 de Fevereiro só pode significar uma coisa para ambas: a data do ignóbil Regicídio. O dia em que mataram El-Rei e, não contentes com isso, também o Príncipe Real.
Mas está a ser tarefa difícil. Nunca antes tinha escrito sobre o Regicídio e convenhamos que não é agradável. Dispensava falar agora sobre a história do crime em si, antecedentes, conspirações e envolvimentos, embora tenha uma opinião bastante firmada sobre o assunto.
Queria antes falar do sentimento de perda que nos afecta pessoalmente sempre que há uma morte, mas que neste caso nos afecta a todos como Nação. Para muita gente, não só monárquicos, é a data mais triste da nossa História. Custa acreditar que haja quem consiga ficar completamente indiferente. É um sentimento de perda, quase de orfandade, que ainda hoje perdura. Relembramos El-Rei D. Carlos com saudade e lamentamos o desperdício destas duas vidas tão preciosas.
O Regicídio é tanto mais ignóbil quanto ninguém acredita que fosse um desejo do povo. Seria apenas o anseio de uns poucos, tão vis quanto o acto. Não foi um assassínio qualquer, uma obra de loucos. Sabiam o que faziam e foram directos à raiz da árvore, causando um golpe profundo. E era mesmo isso o pretendido, decepar a raiz. Para ir secando Portugal.
Com estas mortes, quiseram propositadamente cortar a ligação umbilical dos portugueses à Pátria e à história. Pois, porque um Rei é também a nossa História. O nosso garante perante interesses poderosos, o garante da nossa independência, da nossa identidade, da nossa cultura.
Quando assim se destrói o símbolo e a alma da Nação, da História, da perenidade, da independência, da identidade, o objectivo é claro. Queriam a rotura ambicionando o esquecimento. Mas não conseguiram, pois não? Se assim fosse não havia, 105 anos depois, tantos monárquicos neste país. Com diferentes ideias é certo, mas unidos no mesmo propósito.
O recurso à violência, no Regicídio, dois anos depois, no 5 de Outubro, e nos anos subsequentes, para impor um regime por que poucos pugnavam, não foi um bom princípio. Nunca seria, até por isso mesmo, e de nada adiantou. Em muitos casos até atrasou. O problema não estava no Rei ou no regime, mas no sistema. Ainda hoje.
Perdendo o ponto de referência e a rosa-dos-ventos, as consequências são previsíveis. Andamos às voltas, perdidos e acreditamos em tudo o que nos pareça indicar o caminho certo. Somos, e temos sido, sempre enganados.
Nunca mais foi o mesmo, Portugal. A falta que nos fez e faz o Rei… Sentimo-lo todos os dias.
Leonor Martins de Carvalho
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