Afirmou o Duque de Bragança, numa recente visita à Ilha
Em entrevista exclusiva ao Tribuna, Dom Duarte de Bragança opinou sobre as obras clandestinas feitas na Madeira e sobre o atual sistema de ensino, o qual aponta estar “totalmente errado”. Dom Duarte sugere ainda que sejam feitos testes médicos para definir se os presidentes (câmaras e governo) estão aptos a governar, ou se estão senis.Tribuna da Madeira – Dom Duarte de Bragança esteve presente na cerimónia de entrega da medalha do “Prémio Infante D. Henrique” a 38 alunos da Escola da Apel e da Escola Básica do 2º e 3º Ciclo dos Louros. O que representa esta distinção?
DDB – O Prémio foi criado em Inglaterra pelo Duque de Edimburgo, chamava-se originalmente “Prémio do Duque de Edimburgo”. Tem hoje já 16 milhões de jovens que receberam e estão a fazer as actividades do Prémio. Podem ser jovens muito competentes e capazes, ou jovens com deficiência, jovens que estão nas prisões, de academias militares, etc. É um dos programas juvenis no mundo com mais sucesso depois dos escuteiros. Com este programa, os jovens ficam estimulados para entrarem em actividades muito úteis para eles e para a sociedade, quando num período de tempo tiverem conseguido o sucesso com qualidade, aprenderem a fazer um serviço à comunidade e no fim fazerem uma exposição de sobrevivência uma zona remota. Com isso, mostram que são jovens com competência, com capacidade e com força de vontade.
Tivemos também um convívio da Real Associação da Madeira, o que no meu entender, também deveria estender a sua acção no Porto Santo. Não estava com muita esperança de que se desenvolva, no Porto Santo, um núcleo de pessoas interessadas no tema da Monarquia. Um tema que, no fundo, é a hipótese de levantar a questão de se saber se não será melhor para Portugal ter um Rei em vez de um Presidente da República. Acho isso, particularmente, interessante para as ilhas, para as Regiões Autónomas.TM – Possivelmente, haverá necessidade de ter de ser passada mais informação sobre essa matéria?
Tivemos também um convívio da Real Associação da Madeira, o que no meu entender, também deveria estender a sua acção no Porto Santo. Não estava com muita esperança de que se desenvolva, no Porto Santo, um núcleo de pessoas interessadas no tema da Monarquia. Um tema que, no fundo, é a hipótese de levantar a questão de se saber se não será melhor para Portugal ter um Rei em vez de um Presidente da República. Acho isso, particularmente, interessante para as ilhas, para as Regiões Autónomas.TM – Possivelmente, haverá necessidade de ter de ser passada mais informação sobre essa matéria?
DDB – Sim, há necessidade. Há pessoas que não se inscrevem porque acham que é um grupo fechado, acham que é para um meio social diferente, porque têm vergonha. Não sei, há pessoas que estariam interessadas, teriam gosto. Nas sondagens nacionais, cerca de 40% dos portugueses respondem que não são republicanos. Isto deu nas sondagens da Comissão do Centenário da República. 40% são muitos milhões de portugueses.
TM – O novo ano lectivo arrancou nesta semana. Como analisa o sistema de ensino perante tanta austeridade?
DDB – É angustiante e preocupante ver tantos professores no desemprego, quando temos tanta falta de educação Isso é um facto.
A minha grande preocupação é que o programa de ensino está totalmente errado, em cadeiras como História, Geografia, em vez de ensinarem as crianças a pensar, a raciocinar, a mostrar que perceberam por outras palavras, só precisam de decorar rigorosamente as palavras que estão no livro. Quando falarem como um papagaio amestrado e disserem tudo o que lá está, têm óptimas notas. Se começarem a dizer por outras palavras os professores inteligentes aceitam, mas o programa não. Os professores de matemática queixam-se que o programa é mal feito. Somos um dos países do mundo com maior percentagem de Produto Interno Bruto (PIB) dedicado à educação e dos que têm piores resultados. E a culpa é de quem? Do programa, que está mal feito. E os ministros não têm coragem de mudar o programa. Já falei com muitos ministros e todos dizem que é difícil mudar o programa.
“A um governante, porque tem uma idade avançada, poderia ser pedido que faça testes médicos para ver se a sua saúde está em condições”
TM – Em Setembro de 2011, aquando da sua visita à Madeira, para participar numa iniciativa idêntica, Dom Duarte referiu ao Tribuna que devia haver um sistema familiar mais consistente, famílias mais organizadas. Mantém essa mesma opinião?
DDB – O problema é que o Estado Português favorece muito pouco as famílias. O Estado Português em vez de investir no apoio às famílias, às mães solteiras, ao contrário, paga, subsidia a morte das crianças que querem nascer. Em Portugal, já foram assassinadas, legalmente, pela nova Lei do Aborto, os últimos quatro anos, 100 mil crianças. Perdemos uma população inteira, quase. Se contarmos que por cada ano nascem 90 mil crianças em Portugal, e em quatro anos foram mortas 100 mil já é mais do que uma geração que se perdeu. Isto, para mim, é das coisas mais graves que se impôs em Portugal. Uma coisa é a prática do aborto, que sempre houve e vai haver, por razões médicas, ou por outros motivos, agora, um país que legisla perante o pacifismo do povo, que se pode matar as gerações novas, é um país que se está a cortar da Graça de Deus. Infelizmente, no meu entender, há muita gente na própria hierarquia da Igreja que tem medo de falar nisso, porque pode ser interpretado como uma posição partidária, porque isto pode criar problemas com o Estado. Posso estar a ser injusto, mas julgo e sinto um certo medo por parte dos responsáveis da Igreja Católica em Portugal.
TM – O país continua a enfrentar uma situação difícil e crítica. Como vê a situação actual ao nível político e económico?
DDB – O governo socialista, sobretudo o Ministro Teixeira, que é uma pessoa inteligente e lúcida, percebeu que o país estava falido e que não tinha dinheiro para pagar os salários da Função Pública. E foi por isso que pediu a intervenção internacional com o apoio dos outros partidos. Não sei qual a mentalidade que vai na cabeça desses juízes do Tribunal Constitucional, que dizem que por uma questão de equidade o Estado não pode cortar as suas despesas, e a oposição também acha que não se pode cortar despesas. Vamos então aumentar as receitas. Mas todos os economistas explicam que se a carga fiscal, os impostos, aumentam a partir de uma certa altura as receitas diminuem porque a produtividade cai. Não é preciso ser um génio em matemática para vermos que há aqui qualquer coisa que está mal. 80% do orçamento do Estado é para pagar funcionários públicos e as reformas de funcionários públicos A maior parte dos funcionários públicos são gente valorosa, muito trabalhadora e com muito mérito. Mas há muitos deles que estão encostados e que fazem pouco. Eles têm trabalho garantido para toda a vida, salários garantidos, e os que trabalham por conta própria e nas empresas privadas não têm esse direito? Então onde é que está a equidade? Suspeito que os supostos juízes do Tribunal Constitucional ou estão a defender os próprios privilégios que têm, ou não pensam com raciocínio lógico ou estão nas tintas para o país. Ninguém quer explicar.
TM – Justificava-se a intervenção da troika em Portugal?
DDB – Aceitamos a entrada do apoio internacional que deveria ter sido pedido dois a três anos antes, teria sido mais fácil de resolver os problemas. Mas ninguém teve a coragem de o fazer, foi preciso chegar à situação de urgência para tomarem a decisão.
TM – Um regime monárquico poderia enfrentar a situação que se vive, actualmente, em Portugal e na Madeira?
“Há muitos hotéis na Madeira que são autênticos caixotes”
DDB – As Monarquias escandinavas, na Holanda, Luxemburgo, Reino Unido, são países que estão muito melhor que Portugal. Porque é que a maior parte das Monarquias funcionam melhor do que a repúblicas, em geral? Porque os chefes de Estado, Rainha ou Rei, têm a possibilidade de controlar, como uma espécie de juiz, árbitro, os governos ajudando-os, avisando-os dos problemas, e faz uma política de influência, de lideração que tem sido sempre eficaz. Em Espanha tem sido particularmente difícil porque o Partido Socialista espanhol é muito republicano, as regiões adquiriram uma independência muito grande que escapou de todo o controlo, e acho que também o Rei deixou-se envelhecer, já devia ter abdicado. É a minha opinião pessoal. Até agora, Espanha esteve sempre melhor do que Portugal com uma Monarquia, e o Rei teve alguma influencia. Na Arábia Saudita, qualquer pessoa pode ir falar com o Rei e apresentar queixa ao Rei. Todos os dias há centenas de pessoas que vão para o palácio, instalam-se lá, comem, dormem, uma semana a duas semanas até serem atendidos e apresentarem as suas queixas. Isso é muito engraçado.
TM – Face à situação económica actual, na sua opinião quais são as prioridades a resolver? DDB – Falo concretamente em relação à Madeira. Há muitos anos, desde 74, que venho defendendo o mesmo, de que é perigoso a Madeira basear a sua economia muito só no turismo, que é um actividade frágil, sujeita a crises. Basta haver um pequeno problema de segurança dentro dos transportes aéreos, que os turistas têm medo de se meter num avião. Basta haver uma crise económica e a primeira coisa onde as pessoas cortam é nas férias. Por isso, acho que é perigoso. No meu entender, há muitos anos que se podiam e deviam ter instalado aqui indústrias ligeiras, estendidas também ao Porto Santo. Tais como indústrias electrónicas, de componentes, farmacêutica, etc. Se tivessem sido encorajados a fazerem as fábricas aqui, na Madeira, talvez se tivesse conseguido. Ou pelos nossos emigrantes, em que muitos têm dinheiro e em vez de investirem em fazer casas, em que muitas vezes nem sequer são úteis, estão mal feitas, construídas onde não deviam estar tornando-se um perigo, podiam investir em fazer indústria. Os centros portugueses da Venezuela, da África do Sul, juntavam-se e faziam indústrias com interesse. Mas noto, aqui, um certo pacifismo e serenidade de muitas pessoas.
TM – Como vê o turismo madeirense?
DDB – O turismo na Madeira tem de ser protegido e sustentável, para isso há que proteger a paisagem, a beleza da terra, e não se pode deixar construir aquilo que apetece em qualquer sítio.
Há muitos hotéis na Madeira que são autênticos caixotes, que estrangula completamente a paisagem. Isso é matar a ‘galinha dos ovos de ouro’. Há uma falta de lógica. Fiquei satisfeito porque vi um desenho de um hotel para o Porto Santo que são casinhas pequenas. Não há nada pior para o Porto Santo do que fazer aquele monstro que está lá, numa curva que dá para a praia, que deveria ter sido demolido há muito tempo. Como o edifício que a câmara municipal fez no centro da Vila Baleira que é um crime, estraga totalmente com a beleza da vila. Mas eles são burros? Não são, são pessoas inteligentes mas não têm a cultura de perceber que isso não agrada a ninguém.
TM – Isso poderá passar uma má imagem para o turista que visita ambas as ilhas?
DDB – O turista que se dá ao trabalho de fazer uma viagem para vir à Madeira e ao Porto Santo vem pela beleza, não vem para ver um caixote moderno. Para isso, fica na terra dele. TM – Da varanda da suite onde está acomodado, certamente, já observou as obras que estão sendo feitas nas ribeiras, na baía da cidade do Funchal. Qual é a sua opinião?
DDB – Isso é indispensável, para quem se descuidou da preservação do território quando se deixou a construção clandestina invadir as terras agrícolas, quando há chuva as terras não absorvem a água e vem tudo cá para baixo. Actualmente, tem sido mais frequente as chuvadas e as enxurradas. Chegou a altura de demolir as casas onde não devem estar, realojar as pessoas noutro sítio e, rigorosamente, impedir construções onde não devem estar. TM – Acha que deve haver mais atenção, mais “mão pesada” nesse tipo de construções? DDB – Em qualquer país europeu, para além de Portugal, Grécia e alguns países da Europa de Leste, não há construção clandestina, não existe, e de uma maneira muito simples: nunca uma casa clandestina é legalizada. Na Alemanha pode-se fazer uma casa clandestina mas nunca será legalizada,não pode ser vendida nem alugada, nem vai ter água, nem luz, nada. Provavelmente, será demolida pelo Estado. Em Portugal, a nossa mentalidade é dos coitadinhos que fizeram a casa ao choradinho, e não se quer contrariar a população, não se quer perder popularidade, e vai-se dizendo sempre sim a tudo. Isto é, de fato, a bandalheira que acaba por ser paga, caríssima, por todos nós, pelas vidas de todos os desgraçados que morreram aqui, nas inundações. Mas tem de haver pensamento lógico, um conhecimento de cultura geográfica. A Geografia deveria ser para se perceber isto, não para decorar conceitos teóricos.TM – A «independência da Madeira» já foi por diversas vezes focada pelo presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim, e certamente Dom Duarte terá tido conhecimento dessas afirmações. Qual o seu comentário sobre isso?
DDB – Acho que a solução para a Madeira e para os Açores é, de fato, ter o máximo de autonomia mas mantendo muito fortemente a unidade nacional. A separação é sempre um empobrecimento para toda a gente, porque torna a região mais fraca, mais susceptível, e torna Portugal, em geral, mais fraco. Acho que só numa situação de desespero total é que se poderia pôr uma hipótese dessas, como, por exemplo, se Portugal fosse o culpado pelos espanhóis. Tem-se que encontrar soluções inteligentes. Julgo que essas afirmações são mais no sentido de alertar para um sentimento de que a Madeira, muitas vezes, tem de que é um território colonizado, que não tem a sua verdadeira representação a nível nacional. Porque a representação da Madeira são meia dúzia de deputados no parlamento e é muito pouco. Mas, por exemplo, há um outro aspecto em que se podia melhorar muito a representação da Madeira no parlamento português que era os nossos emigrantes poderem todos votar.
“O programa de ensino está totalmente errado”
TM – Alberto João Jardim já disse que não se candidata mais ao cargo de presidente do Governo Regional da Madeira. Mas, contudo, já voltou a deixar uma dúvida no ar de que poderá vir a se recandidatar. Um governante deve ter a noção de quando chegou ao limite do seu «reinado», ou é difícil assumir que o seu tempo chegou ao fim?
DDB – Não concordo nada com essa lei de proibir os presidentes de câmaras de se recandidatar. Mas não foi bem dirigida não se percebe bem se não se podem recandidatar a câmara nenhuma ou só à própria. Falou-se sempre mais de outros assuntos. Não sei se os deputados são analfabetos, se não sabem o que estão a fazer. É uma lei que não se percebe e que eles não querem explicar qual a sua intenção. Mas isso é um síndroma republicano. Todo o sistema republicano tem medo de que um governante eleito possa transformar-se num ditador. No meu entender, a população é que tem de ter conhecimento suficiente para saber se um governante pode e deve ser reeleito. Diria que a um governante, porque tem uma idade avançada, poderia, por exemplo, ser pedido que faça testes médicos para ver se a sua saúde está em condições. Há pessoas com 80 anos que são brilhantes e fantásticos políticos, mas há pessoas que aos 60 anos já estão senis. Cada caso é um caso. No caso da Madeira, estou convencido que só se vai recandidatar se considerar que as suas capacidades e saúde estão boas para o fazer. E se assim for, perguntem ao povo se querem ou não. Podia se pôr na lei que um candidato a Presidente da República, ou a Presidente de Câmara, ou a um cargo público importante tivesse de fazer testes médicos e psicotécnicos antes de ser candidato. Estou convencido que tivemos governantes em Portugal que teriam chumbado nos testes psicotécnicos, alguns bem recentes. Fazer testes de cultura geral também é muito importante.Criou-se em Portugal clubes políticos, no qual não é muito fácil ser-se sócio, é muito difícil subir lá dentro, e só aquela elite que lá está é que escolhe os candidatos. E, aí, cria-se a distorção do que é realmente a democracia.
TM – Já referiu que a Madeira tem uma paisagem bonita. A ilha poderá estar no seu destino de férias com a família?
DDB – Gosto muito do clima e da paisagem da Madeira e do Porto Santo. A costa norte tem paisagens lindíssimas e mais preservadas do que a costa sul. Pretendo voltar, um dia, de férias e trazer a família.
TM – Os momentos são difíceis, com uma crise acentuada e um número gritante de desemprego. Que mensagem gostaria de deixar ao povo?
“Chegou a altura de impedir as construções clandestinas”
DDB – Temos que ver os bons exemplos que há, as soluções que existem, e inspirar-mo-nos nelas. Desde o extraordinário desenvolvimento da solidariedade que tem desenvolvido no país todo. Há milhares de portugueses que dão o seu tempo livre para a solidariedade, através de organizações, outros por conta própria ajudando vizinhos, amigos, parentes com necessidade. Essa rede de solidariedade tem ajudado muito a minorar o sofrimento de muita gente. Quando se fala em desemprego, há também muita mentira porque sabemos que há muitos empregos que são oferecidos mas não há ninguém queira fazê-los. Acabam por vir marroquinos, cabo verdianos, e outros, por vir fazer os trabalhos porque os portugueses não querem. Muita gente quer emprego e não trabalho. Há câmaras municipais que tomaram a decisão que só entregam subsídios a pessoas que ofereçam o seu tempo para o voluntariado. As pessoas deviam apostar mais na agricultura. Em Portugal, chegam kiwis da Nova Zelândia, uma coisa absurda, quando na Madeira temos um clima bom para produzir esse fruto. O maracujá da Brisa, que é óptimo, é tudo importado. Os desempregados podiam ocupar-se da produção desses produtos. Há tanta coisa importante que se pode fazer. A lição que acho que devíamos tomar é cortar as raízes, procurar onde há trabalho que seja possível fazer e aprender. Uma coisa que acho fantástica, aqui na Madeira, são as hortas municipais. É uma maneira óptima de ocupar e entreter as pessoas, nos tempos livres. Há muito regresso à agricultura, e isso depara-se muito no continente. E aqui, na Madeira, o clima é ideal para a plantação. Há tanta coisa que se pode fazer. Dou um exemplo, a fruta servida nos hotéis não presta, é verde, não tem paladar nenhum. Quando há técnicas que se podem fazer para que o fruto seja amadurecido naturalmente. Outro exemplo, as flores da Madeira são lindíssimas e poderiam ser mais exportadas.
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