Era Dezembro de 1979, tínhamos todos 20 anos e foi ao balcão do"Gambrinus", algumas imperiais depois (servidas pelo velho Domingos), que nasceu a ideia de formarmos a Tertúlia Tauromáquica D. Miguel I. Eu e mais três bons amigos. O Vítor Escudero, meu amigo de infância, filho do saudoso Manolo Escudero, o braço-direito de Manuel dos Santos e um dos fiéis pilares da empresa do Campo Pequeno (falecido no mesmo acidente em Vendas Novas onde também morreu o antigo matador e empresário); o José da Cunha Motta, que era um jovem monárquico e um grande aficionado; e o João Pedro Núncio Cecílio, neto de Patrício Cecílio, o grande mestre dos toureiros, da Golegã.
Dizíamos na nota de apresentação que enviámos aos orgãos de Comunicação Social que "não somos nem pretendemos ser os salvadores da Festa, mas estamos cientes de que contribuiremos para que a Festa se salve", frisando que surgíamos "para marcar uma presença jovem neste tão atribulado mundillo dos toiros, numa altura em que a Festa atravessa um momento que de modo algum poderemos considerar dos melhores, já que as fraudes, as adulterações e as mais diversas jogadas se vão fazendo nas costas do público aficionado".
"Ao designarmos a nossa tertúlia de D. Miguel I quisemos de uma forma despretenciosa, mas significativa, homenagear aquele que foi o Rei-Toureiro e cuja alma era o reflexo da alma nacional", explicámos.
"Defender a verdade, a dignidade, a pureza e a seriedade da Festa de Toiros, bem como propagandeá-la e prestigiá-la na sua dimensão inequivocamente tradicionalista e representativa dos mais verdadeiros e elementares valores morais e culturais desta Pátria e deste Povo com mais de oitocentos anos de História" eram os objectivos primordiais e as intenções que nos faziam avançar.
Anunciámos também a atribuição anual do "Prémio Tertúlia Tauromáquica D. Miguel I" e o primeiro distinguiu o Grupo de Forcados Amadores de Santarém. Explicámos porquê: "Ao atribuirmos o nosso prémio aos homens das jaquetas de ramagens, queremos não só homenagear os seus actuais elementos, que tantas tardes de glória têm alcançado nestas últimas épocas, com especial relevência para a deste ano, mas também relembrar esses grandes forcados que foram Ricardo Rhodes Sérgio, Jorge Duque, Mascarenhas, Mário Brilhante, José Manuel Souto Barreiros e tantos outros".
A apresentação oficial da Tertúlia D. Miguel I teve lugar a 18 de Dezembro desse ano de 1979 no carismático Solar do Vinho do Porto, na Rua de São Pedro de Alcântara (Lisboa), com um "Porto de Honra" que reuniu a fina-flor da crítica taurina, alguns toureiros - entre os quais, o então promissor Vitor Mendes - e que teve a honrosa e especial presença de S.A.R. O Senhor Dom Duarte, Duque de Bragança. O troféu aos Forcados de Santarém foi entregue a Carlos Empis, ao tempo seu cabo.
Correu tudo às mil maravilhas, mas a verdade é que nos anos seguintes a Tertúlia foi "adormecendo", talvez por que outros valores se levantaram nas nossas vidas e o tempo foi faltando, até praticamente desaparecer. Realizámos mais alguns eventos, mas depois "fechámos a porta".
Anos mais tarde, em Janeiro de 1991, o jornalista e crítico taurino Manuel de Andrade Guerra, nosso querido amigo, retomou as rédeas da Tertúlia Dom Miguel I, que passou então a utilizar a designação de Real Tertúlia com a concordância expressamente manifestada por S.A.R., O Duque de Bragança. Até hoje.
Miguel Alvarenga
Carlos Empis, cabo dos Forcados de Santarém, os nossos primeiros premiados, na festa de apresentação da Tertúlia D. Miguel I, com S.A.R. o Duque de Bragança, João Alarcão e o jornalista Hernâni Saragoça.
Símbolo da Real Tertúlia
Farpas Blogue - Real Associação do Médio Tejo
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