Um regime que começou por prender e exilar os seus melhores empresários, acusando-os do “crime” de serem ricos e criarem riqueza, só podia desembocar nisto: um Estado esbanjador do dinheiro alheio pedindo esmola por esse mundo fora. Tudo estava ao nosso alcance, tudo desbaratámos. Ao longo das últimas três décadas, delapidámos a estabilidade financeira, destruímos a agricultura, acabámos com as pescas e com a indústria, avacalhámos o turismo – e, como cigarras idiotas, transformámos Portugal num país de mangas-de-alpaca. Uma hora de trabalho de um alemão produz mais riqueza real do que um turno completo de um “empregado” português dos “serviços”. Um país de “serviços” é o que somos hoje – prevendo-se, inevitavelmente, a nossa breve transformação num país de serviçais. Esta insanidade (algo ainda mais extraordinário) não nos foi imposta por ninguém: escolhemo-la nós, de cada vez que fomos às urnas renovar o mandato dos sucessivos vendedores de banha-da-cobra por quem nos deixámos enfeitiçar, de cada vez que fechámos os olhos e quisemos acreditar que o seguinte não seria pior do que o anterior. Comprámos o elixir da felicidade instantânea dos governos ideológicos de esquerdas e sub-esquerdas, suportámos a demência gonçalvista e a tirania dos copcães, deixámos entregar o Ultramar com a mesma inconsciência com que agora parecemos preparar-nos para entregar a soberania dos nossos mares, rendemo-nos aos tecnocratas sem miolo e aos falsos liberais da negociata, sucumbimos a políticos feitos de “imagem” e a governantes empenhados na “implementação” do seu próprio enriquecimento. A ignorância espessa da sociedade de “doutores” iletrados pelos “Morangos com Açúcar” é uma risada nos mercados internacionais: os nossos trabalhadores são menos qualificados do que os turcos ou os mexicanos, os nossos empresários ainda são piores. Educámos os nossos filhos para palermas, demos-lhes como horizonte um bmw, um “emprego” e férias em Punta Cana. Aceitámos uma “Justiça” de faz-de-conta, uma Saúde de Terceiro Mundo e uma vida sem alma ou destino. Agora, pagamos.
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