terça-feira, 6 de maio de 2008

ÚLTIMO REI DE PORTUGAL - HOMENAGEM
Monarca jovem e breve, Dom Manuel II perdurou na imagem do Patriota Saudoso.

Foi há cem anos, sem tirar nem pôr, a "aclamação do Rei da acalmação".
Assim mesmo, sem gralhas, porque nesse 6 de Maio de 1908, três meses e cinco dias após o regicídio, Dom Manuel II, o último Monarca, foi legitimado pela Câmara dos Deputados, encetando um reinado que quis pacificador mas que aguentou pouco mais de dois anos, até àquele cinco de Outubro em que tomou um bote, na praia da Ericeira, rumo ao iate "Amélia" que o levou para um exílio que durou até à morte.O óbvio é recordá-lo como um Rei improvável. Escapou, com ferimentos num braço, ao atentado em que pai e irmão mais velho morreram e teve de receber, logo nesse 1 de Fevereiro de 1908, um fardo que qualquer um teria dificuldades em suportar. Como nota Maria Cândida Proença, biógrafa de Dom Manuel II, este, enquanto reinou, "caracterizou-se pelo esforço na busca de soluções de compromisso que permitissem ultrapassar as sucessivas crises". Era tolerante, mesmo em relação aos inimigos, e quis ser, sobretudo, um pacificador. Nesse sentido promoveu a dita acalmação, começando logo por ele próprio o processo do Regicídio foi, praticamente, arquivado à nascença.Porém, a semente da república havia sido lançada à terra muito antes e foi germinando, numa sucessão de governos, de impasses governativos, de crise permanente.Há cem anos, sem tirar nem pôr, o jovem monarca (tinha 18 anos) dirigiu-se aos deputados, fazendo a promessa tradicional "Juro manter a religião católica, apostólica romana, a integridade do reino, observar e fazer observar a Constituição Política da Nação Portuguesa e mais leis do reino e prover ao bem geral da Nação em quanto em mim caiba". Fielmente Constitucional Manuel II era Rei Constitucional, por convicção a que mesmo no exílio se manteve fiel, o que levou à ruptura com o Integralismo Lusitano, movimento precursor do Estado Novo, e a profundas dissensões na Causa Monárquica.
Só voltou a Portugal depois de morto, em 1932, a bordo do cruzador "Concord". Recebeu exéquias de Estado, em que participaram o presidente da república, Óscar Carmona, e o presidente do Conselho de Ministros, Oliveira Salazar. Portugal honrava o desejo do último Rei - ser sepultado no Panteão Real de S. Vicente de Fora, em Lisboa, junto ao Pai e ao Irmão - e, embora ideologicamente oposto a Manuel de Bragança, Salazar (que desprezava o sistema parlamentar) fazia desta trasladação propaganda de um passado glorioso de que o Estado Novo se reclamaria legítimo herdeiro, como contraponto à caótica república instituída em 1910. De 1910 a 1932, o breve Rei viveu imerso em saudade e em sentimento patriótico. Embora não perfilhasse a ditadura militar saída do golpe de 28 de Maio de 1926, promoveu o reconhecimento, no estrangeiro, designadamente na Grã-Bretanha, do regime que derrubara a I República, na consciência de que prestava um serviço ao seu país e na esperança de que se seguisse uma Restauração da Monarquia em que ele mesmo reemergisse. Foi nesse sentido que promoveu um apoio estratégico à ditadura, na convicção de que esta não duraria sempre e de que, assim, estaria na linha da frente para o que depois viesse. O depois só veio em 1974.
JN - 6 de Maio de 2008


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