domingo, 7 de agosto de 2016

VISITA REAL DOS REIS DOM CARLOS E DONA AMÉLIA AO ALGARVE - 1897

Visita Real dos Reis D.Carlos e D.Amélia ao Algarve (1897) - Monchique - Parte 1

«Estão no Algarve os Reis de Portugal. Bem vindos sejam!». Foi assim que a imprensa farense, através de O Algarve, saudou a chegada ao Algarve do Rei D. Carlos e a rainha D. Amélia de Orleães, no dia 9 de Outubro de 1897.
A visita real ao Algarve, que então já de denominava de província e não de reino, realizou-se entre 9 e 15 de Outubro de 1897, com início na gare de Albufeira, onde os soberanos chegaram de comboio pelas 8 da manhã.
De Albufeira partiriam para Faro, passando antes por Loulé, onde também tiveram recepção oficial. Depois de visitarem todo o Sotavento, Sagres e Lagos, chegariam na noite do dia 12 a Portimão, onde depois de grandiosa recepção pernoitaram no iate D. Amélia, aqui atracado.
Praticamente toda a grande imprensa lisboeta, algarvia e nacional se faria representar na viagem, nomeadamente os jornais Diário de Notícias, O Século, Branco e Negro, e Ilustração Portuguesa, onde encontrámos abundantes alusões ao percurso, nomeadamente ao acolhimento que os monchiquenses terão propiciado ao casal régio.
A «formosa e pitoresca vila de Monchique», que a imprensa acompanhante considerou como «uma das mais graciosas e originais vilas da província» seria contemplada pela visita real no dia 13 de Outubro.
Sobre a lenta ascensão até Monchique existem várias descrições nos principais jornais do reino: «Maravilhoso todo este caminho que, partindo de Portimão, subindo sempre, leva a Monchique».
Na Torrinha, limite do termo encontravam-se as várias individualidades concelhias, nomeadamente o administrador do concelho e representante do Governo José Sebastião “da Venda”, o presidente da Câmara Municipal e antigo deputado José Joaquim Águas, o juiz de Direito substituto e conservador do Registo Civil, Dr. Francisco do Rego Feio, o grande proprietário local e deputado pelo circulo de Silves (a que o concelho pertencia), coronel José Gregório de Figueiredo Mascarenhas, vereação, restantes autoridades, figuras de destaque local, povo e pelo menos uma das várias bandas musicais que então havia no concelho. Das restantes filarmónicas, uma estava nas Caldas e as outras espalhadas ao longo do trajecto. Depois das saudações os soberanos seguiram viagem rumo às Caldas de Monchique.
Dando a vez ao repórter, este descreve os «pinhais, sobreiros, medronheiros, grandes moitas de alecrim e de rosmaninho balsâmicos. O cenário agiganta-se, alargam-se os horizontes, cavam-se vales fundos e apertados (…), de espaço a espaço, nas voltas da estrada toda em zig zags caprichosos, entrevê-se pelas abertas dos cimos sobrepostos, a Picota, penedo abrupto de difícil acesso, e que fica ao nascente da Foya, a soberba rainha serrana sempre namorada por grandes massas de nuvens».
Nas Caldas de Monchique os soberanos receberam flores das três filhas do Dr. João Bentes Castel-Branco, médico e concessionário da estância termal, que lhes preparara uma marcante recepção, com visita ao Sanatório Kneipp e uma exposição de artesanato, vestuário e medicamentos naturais.
Não se demorando muito na estância termal, a comitiva continuou na direcção da vila. A nossa fonte é mais uma vez a revista Branco e Negro: «do Banho para cima as rampas são ásperas e avança-se lentamente durante uma hora até à vila de Monchique».
É provável que a visita real, com o seu séquito de ministros e funcionários do Passo tenha chamado a atenção para o escabroso caminho que então levava à vila, uma distância de quatro quilómetros que então se fazia dificilmente em cerca de uma hora. Todavia, a preocupação era maior em relação à estância termal, geralmente frequentada por gente importante, pois, em 1877, chegou às Caldas de Monchique a construção da estrada Portimão/Monchique, pelo processo de macadame. Acompanhando a novidade da estrada teve inicio neste mesmo ano a carreira de diligência para as Caldas, com a periodicidade de três dias por semana.
A chegada à vila deu-se, segundo a imprensa, às 11h45. Lorjó Tavares descreve a vila engrandecida por uma «deliciosa ornamentação toda campesina (…) com as ruas transformadas em tapetes de junco, postes enfeitados a murta, arcos singelos, medronheiros com as suas bagas vermelhas como morangos, festões torcidos a alecrim de que pendiam cachos de flores silvestres, maçãs e romãs, paredes de alto a baixo estufadas de murta e urzes». O texto do Branco e Negro aparece ilustrado com 10 belas e monumentais fotografias da vila, Caldas e Fóia.
À entrada da vila acumulava-se o povo simples, muito dele vindo expressamente do campo para ver o Rei. Segundo ressalta da maioria da imprensa, a recepção não terá sido aqui tão calorosa como nas outras terras da província.

Visita Real dos Reis D.Carlos e D.Amélia ao Algarve (1897) - Monchique - Parte 2

Rei D. Carlos e Rainha D. Amélia na subida à Fóia

Na vila seria distribuído um folheto idêntico aos das outras terras, com os retratos do Rei e da Rainha, onde constava a legenda «Visita a Monchique em 13 de Outubro de 1897». 
Quase de imediato os Reis dirigiram-se por entre os arcos vestidos de verdura e papel, nomeadamente, os da Rua do Serro, Rua de S. José e Rua Direita, para o palacete do comendador José Joaquim Águas, onde seria servido o almoço.
Da comitiva faziam parte membros do governo, deputados, funcionários reais, o governador civil de Faro José Vaz Correia de Seabra Lacerda, jornalistas, e industriais e proprietários, sempre acompanhados de bastantes curiosos. 
O programa integralmente publicado em O Algarve e noutros jornais incluía a ementa em francês do «almoço em casa do digno presidente da Câmara e antigo deputado, Sr. José Joaquim Águas», que foi de quarenta talheres e cujas iguarias foram expedidas de Lisboa pelo famoso restaurante "Casa Rosa Araújo".
A segunda etapa da visita seria contemplada com um passeio à Fóia, que se realizou a cavalo pela tradicional subida das burricadas do Barranco dos Pisões, com os Reis à frente, indo Dom Carlos fardado e a Rainha vestida de amazona, sempre ladeados por uma espécie de guarda de honra, composta por «uns trezentos serrenhos, afeitos a estas caminhadas». Na cavalgada iam os oficiais do Rei, os ginetes da guarda real e mais trinta cavaleiros, onde se incluíam algumas autoridades locais e regionais.

À noite, no jantar servido a bordo do iate D. Amélia, estiveram presentes José Joaquim Águas e José Gregório de Figueiredo Mascarenhas.

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