terça-feira, 27 de maio de 2014

EU QUERO UM REI!




“(…) O Rei ascendendo ao trono pelo nascimento, não provoca divisões nem lutas de opinião. Não é candidato. É aceite previamente, sem discussão, sem rivais, porque é único nas suas condições. Independente das divergências políticas, situa-se acima delas, igual para todos, a todos igualmente representando. Todos estão ao abrigo do poder da Coroa, imparcial, extra-partidário e agregador nacional. O Poder oriundo de uma eleição fica, ipso facto, vinculado à parte que vencer.
É o poder dos vencedores sobre os vencidos.
Uma representação nacional autêntica terá de abranger, para aquém e além do efémero presente, a herança do passado e a projecção futura, isto é, ajustar-se à personalidade histórica da nação.
E onde está o órgão ou a instituição, pergunta-se, que no Estado Republicano supra neste aspecto a falta da Dinastia?
O Rei, se pela sua função vitalícia já preenche uma geração, anda intrinsecamente ligado, pela ascendência e pela descendência, na extensão do tempo, ao longo evoluir nacional.
A sua história genealógica confunde-se com a história pátria.
Que outra representação da nação se poderá pôr em confronto com esta, verdadeiramente nacional, que nos oferece a Realeza?
Quem não vê que o mecanismo da chefia republicana é um factor periódico e persistente de desunião e de luta interna? (…)
E como há-de um Presidente, eleito por um sector da população, em guerra contra outros sectores da população, simbolizar e exprimir uma unidade nacional?
Em contraposição, o Rei é o chefe de Estado que não se apresenta como candidato entre demais, nem se vota, nem se discute, não suscita desuniões. Situado num plano superior ao debate político, a sua chefatura tem um carácter nacional e pacífica, coordena, congrega, unifica.
(…) Chefe de Estado em circunstâncias excepcionais de independência é o Rei. Para sê-lo, não dependeu de ninguém. Para reinar, de ninguém depende. A sua independência vem-lhe do facto do seu próprio nascimento. Não foi escolhido por ninguém. Não deve a ninguém os favores de ter sido distinguido para o seu posto, no qual ingressa por herança. Todos os seus súbditos desempenharam igual papel, que foi neutro, porque foi nulo, na causa da sua ascensão ao trono. Não tem portanto que distinguir pessoas ou partidos políticos, movido por qualquer sentimento de gratidão ou aguilhoado por qualquer despeito. Todos foram iguais perante a sua predestinada subida ao trono; para todos será igual no exercício pleno dos seus poderes. É este, de resto, o seu próprio interesse.
Verificado num breve confronto ser o Poder Real o mais independente e sendo a independência a primeira condição da Justiça, fica demonstrado por inevitável corolário, ser a forma monárquica a forma de governo que mais garantias de Justiça nos
oferece.”

In “Razões Reais”, Mário Saraiva

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