segunda-feira, 19 de novembro de 2012

NA RUA TAMBÉM SE VOTA

Em 1908, para demonstrar que a maioria esmagadora do país estava com a Carta e com o legítimo governo do Rei, Lisboa saiu pacificamente à rua em defesa da normalidade e das liberdades políticas ameaçadas pelos grupos terroristas republicanos.

Desde que Portugal se começou a desconjuntar, ou seja, em 1820, que a violência tem sido aplicada com uma regularidade quase geracional, com o argumento de que as mudanças, a ocorrerem, só se podem produzir mediante ruptura. Seria ocioso enumerarmos a sucessão de acontecimentos que desde o século XIX ao presente exprimem essa constante adesão de minorias a soluções expeditas. Para os adeptos da violência como instrumento da acção política, o derramamento de sangue anula ipso facto a legitimidade de quem governa e o império das leis, justificando o momento excepcional. Há, latente ou expresso em alguns sectores da vida política portuguesa, um desprezo quase epidérmico pela crença básica da cultura e do método democrático (como do liberalismo) que se funda na aceitação da vontade da maioria como premissa para o consenso/ contrato social. Hoje, calcando resultados eleitorais que datam de há pouco mais de um ano, essa tentação putchista, esse desrespeito pela voz das urnas e da representação saída das eleições de 2011 assume proporções quase indecorosas. Há gente que só aceita a legalidade se tiver por si a maioria. Há gente que se considera democrática, conquanto os outros se lhes submetam. Os resultados de 2011 são trocados ao desbarato por sondagens, os deputados da maioria desrespeitados por comentadores pagos e sem qualquer mandato, o governo e os seus ministros permanentemente insultados por gente que nada é.
O governo parece não se ter dado conta que os seus adversários já passaram da acção parlamentar para o escrutínio das ruas. Seria interessante saber se as forças que apoiam a maioria estão dispostas a uma prova de força nas ruas e, assim, neutralizar uma escalada que poderá vir a justificar uma ruptura anti-democrática em nome da "vontade geral" de partidos e grupos, que juntos, não ultrapassam 1/5 do eleitorado.

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