segunda-feira, 4 de junho de 2012

UMA PÁTRIA PARA LÁ DO FUTEBOL

Confesso que me incomoda um pouco a campanha de histerismo criada à volta da Selecção Nacional na contagem decrescente para o Europeu de Futebol. Mais do que na expectativa indígena face ao certame, este barulho tem origem na necessidade imperiosa de compensar os patrocinadores do investimento publicitário investido e tal não era possível sem a adesão incondicional da comunicação social de massas.
Nesse sentido pouco me comovem os veementes e apelos de adesão a esse artificial sentimento de “nacionalismo” verde-rubro. Em pleno processo de enfraquecimento dos valores identitários e atomização social, reabilitar a Pátria para conveniências mercantilistas do jogo da bola é brincar com coisas sérias. Mais a mais sob o significativo risco de não passarmos de uma participação medíocre. Sim; o futebol é um jogo, com o que isso implica de fortuito e emocional. O patriotismo indispensável aos desafios que a Nação enfrenta, jamais poderá ser equívoco, mas sustentado em fundamentos consistentes, que só uma coesa comunidade de homens e mulheres conhecedores e livres garante. Coisa que não temos.
Por tudo isto, pareceu-me de uma assinalável salubridade a derrota ontem da selecção com os turcos, partida que não tive o desprazer de assistir. Um balde de água fria que coloca as coisas nas devidas proporções.
De facto, urge levantar o esplendor de Portugal, inspirar a alma lusitana, coisa que duvido aconteça nos relvados da Polónia e da Ucrânia. Mas se nessa roleta de sortes e azares o destino nos levar às finais, certo é que o meu coração não resistirá a bater acelerado e em uníssono com o País… mesmo que pelo sonho duma fugaz vitória.

PS.: Durante os doze meses de ano, faça sol ou chuva, da janela da minha casa e no fundo do meu coração a bandeira nacional que me inspira está sempre desfraldada. Não é verde e encarnada.
João Távora, corta-fitas

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