sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

ENTREVISTA DE S.A.R., DOM DUARTE À REVISTA "SIM" DO MINHO

Para ler
No dia de celebração de Reis, várias personalidades ligadas à Monarquia juntaram-se num jantar, com o objetivo de promover o produto português. E se voltássemos a ter um rei? Essa foi a pergunta que deixámos a Dom Duarte e Manuel Beninger, do PPM bracarense.
Dom Duarte
"Não faz sentido celebrar o 5 de Outubro" 
Celebrou-se, em 2011, o Centenário da República. Como vê estes 100 anos, em que metade foram de República e a outra metade de ditadura? Porque defende a Monarquia? - Eu acho que, se a Revolução do 5 de Outubro tivesse valido a pena para alguma coisa, não teria sido necessário fazer outra revolução em 1926, que deu a ditadura, e outra em 1974. Um regime que, em 100 anos, precisou de três revoluções para finalmente por Portugal num estado de falência como está hoje, não vejo grande méritos nem motivos para festejar. Estes 10 milhões de euros para festejar o Centenário serviram para esclarecer um pouco a realidade histórica, mas pouco mais. Acho muito bem que o feriado de 5 de Outubro tenha sido cortados, porque vamos festejar o quê? De qualquer forma, temos alguns exemplos na Europa em que se mantém a Monarquia Constitucional, mas a crise também afeta esses países…Todas as Monarquias actuais são democráticas, mais democráticas do que muitas repúblicas e são bons exemplos. Veja-se o caso do Japão, da Austrália, Espanha… Claro que a crise atinge muitos países e muitos regimes mas, se virmos a maneira como as Monarquias europeias reagiram à crise, creio que foram mais positivas que a forma como estamos a ultrapassar esta fase. Talvez a Espanha esteja a reagir menos bem, porque na verdade não é um país, são vários países.
Como pensa que vão ser os próximos anos em Portugal? - Curiosamente, há dias o nosso pároco dizia que esta é uma oportunidade para desenvolvermos as nossas potencialidades, desenvolver soluções e alternativas locais, a solidariedade. Quem pode, deve ajudar mais e não viver às custas dos outros. Infelizmente, há muita gente mais interessada em receber subsídios que em trabalhar e 30% das ofertas de emprego em Portugal não têm ninguém interessado. Chegou a ocasião para fazermos uma reforma profunda e distribuirmos os recursos de uma forma mais justa e equitativa. Por outro lado, o aspecto caritativo também será muito importante. Não se deve confundir caridade com solidariedade. Solidariedade tem a ver com as pessoas de quem eu gosto ou com quem simpatizo; para as pessoas que eu não conheço trata-se de uma questão de caridade, porque temos obrigação de ajudar as pessoas que precisam, mesmo que não conheçamos ou não gostemos deles.
Na sua opinião, a política a seguir deve ser de mais cortes ou de mais investimento? - Deve cortar-se onde se pode, no inútil ou supérfluo, e investir com cuidado. Por exemplo, todos nós pagamos milhões por cinema e teatro que ninguém vai ver. Não faz sentido. Gasta-se milhões a comprar tecnologia e até cerâmica para equipar hospitais públicos. Os automóveis são importados. Há muita coisa assim. Não somos coerentes com a necessidade de consumir português. Tem que haver uma mudança de atitude e combater vícios de novos-ricos, que fomos criando.
Como analisa a compra da EDP pelos chineses? - Se é preciso dinheiro, tem que se vender, mas preferia que essas grandes empresas continuassem controladas por nós. Temos um modelo de desenvolvimento errado. Venho defendendo isso há muitos anos: destruição da agricultura, da indústria, em troca de receber subsídios do estrangeiro.
Acha que a sociedade não leva os monárquicos a sério? - Eu acho que não. Numa sondagem da comissão dos 100 anos da República, perguntou-se às pessoas quem era republicano. 60% disseram que sim, o que quer dizer que 40% ou é monárquico ou anarquista, que são muito poucos. Os meios de comunicação não nos levam a sério, talvez por uma questão de preconceito e uma certa falta de conhecimento político. Pensam na Monarquia como uma coisa do passado, em vez de nos comparar com as Monarquias contemporâneas.
Estaria disponível para assumir o papel de rei? - Sempre disse que estou ao serviço de Portugal, seja na diplomacia, seja na promoção dos produtos portugueses. Se um dia os portugueses quiserem que eu assuma a Chefia de Estado, como uma pessoa completamente independente e apartidária, estarei disponível.
Manuel Beninger
"Já vivemos 100 anos de catequização republicana e os resultados estão à vista"
Faço-lhe a mesma pergunta que ao Dom Duarte. Monarquia porquê? - Os países mais desenvolvidos no mundo ocidental são monarquias. O curioso desses países é que têm a hipótese de referendar se os cidadãos querem manter este sistema político ou se querem mudar. Por exemplo, a Austrália fez esse referendo há 12 anos e o povo preferiu continuar com a monarquia, sendo o chefe de estado a Rainha de Inglaterra. É preciso perceber que a monarquia já não significa o rei em cima de um cavalo a correr atrás dos Mouros. É algo que é isento de partidos políticos, isento; representa a história de um povo e a tradição. Pode parecer estranho ter um filho a suceder a um pai, mas acaba por ser uma situação natural. Os casos de sucesso por essa Europa fora são a prova disso.
Qual acha ser a razão de tanta distância das pessoas em relação à monarquia? A hereditariedade? - Causa em Portugal, fruto de 100 anos de catequização republicana. Passa a ideia de que foi feita uma revolução para libertar o povo da opressão e dar-lhe a democracia e isso é completamente errado. A democracia já existia antes de 1910.
Acha que num período de crise como o que vivemos, as pessoas vão começar a pensar na monarquia? - Completamente convencido que sim. A república está a cair no pior que lhe pode acontecer, que é quando o Chefe de Estado começa a não ter o respeito dos cidadãos. Quando se comparam custos que a República portuguesa com os custos da Monarquia espanhola, por exemplo, a diferença é abismal. Nós gastamos em Portugal 16 milhões de euros, para 10 milhões de habitantes; a Espanha, 8 milhões, para 40 milhões de habitantes. Isto é o despesismo total e eu, como monárquico, até estranho que estes assuntos comecem a ser falados sem qualquer pudor, na praça pública.

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