terça-feira, 7 de julho de 2009

"O BRASILEIRO É UM PORTUGUÊS À SOLTA"
Muito gentilmente Senhor Dom Duarte de Bragança concedeu uma entrevista ao nosso blog "O QUE É ISSO?". Estamos agradecidos e honrados.
O Chefe da Casa Real Portuguesa, Dom Duarte Pio João Miguel Gabriel Rafael de Bragança é filho dos Duques de Bragança, Dom Duarte Nuno, Neto de D. Miguel I, Rei de Portugal e Dona Maria Francisca de Orleans e Bragança, Princesa do Brasil, trineta do Imperador D. Pedro I do Brasil, também conhecido como D. Pedro IV de Portugal.
Casou a 13 de Maio de 1995, com a Senhora Dona Isabel de Herédia, e é pai de:
Dom Afonso de Santa Maria, Príncipe da Beira, nascido a 25 de Março de 1996 e baptizado em Braga a 1 de Junho de 1996,
Dona Maria Francisca nascida a 3 de Março de 1997 e baptizada em Vila Viçosa em 31 de Maio de 1997
Dom Dinis nascido a 25 de Novembro de 1999 e baptizado no Porto em 19 de Fevereiro de 2000.
Como Presidente da Campanha “Timor 87”, desenvolveu actividades de apoio a Timor e aos Timorenses residentes em Portugal e noutros países, iniciativa que teve o mérito de dar um maior destaque à Causa Timorense.
Sob a presidência do Senhor Dom Duarte participaram dessa campanha numerosas personalidades notáveis de diferentes quadrantes da sociedade portuguesa da altura, conseguindo-se a construção de um bairro para Timorenses desalojados.
Através da Fundação Dom Manuel II, instituição que preside, deu continuidade a esse empenho através de ajudas financeiras para a concretização de projectos nos domínios da educação, cultura e promoção do desenvolvimento humano em Timor e noutros países lusófonos.
Agraciado por múltiplas ordens honoríficas, o Duque De Bragança está ligado por laços familiares a várias Casas Reais da Europa, nomeadamente: Luxemburgo, Áustria-Hungria, Bélgica, Liechenstein, Itália, Espanha, Roménia, Sérvia, Bulgária Thurn e Taxis, Bourbom Parma, Loewenstein etc.
Visita regularmente países com estreita relação histórica a Portugal frequentemente a convite dos respectivos Governos ou Chefes de Estado com quem mantém laços de amizade, como por exemplo o Brasil, Arábia Saudita, os Emiratos Árabes Unidos, Japão, China, Marrocos, Rússia, Estados Unidos, etc.
Desde muito jovem dedicou a sua atenção à defesa do ambiente, pertencendo desde os dez anos à Liga para a Protecção da Natureza.
O QUE É ISSO - Senhor Dom Duarte, sabemos que se interessa muito pelo tema da ecologia e defesa do meio ambiente. O mundo está muito preocupante. Recentemente as abelhas e certas espécies de sapos estão a extinguir-se, pássaros a morrer, a água cada vez mais escassa… A Floresta Amazónica que é o maior estoque de carbono terrestre (em forma de árvores, folhas e raízes) a desaparecer… Infelizmente, a causa para todas estas situações parece ser a acção do homem. Qual lhe parece que seria a melhor forma de procurar uma solução?
SENHOR DOM DUARTE : Desde a minha primeira visita ao Brasil, durante a qual viajei pela Amazónia de “barco capoeira” e carro, em 1972, que estou interessado nesse assunto que tem sido abordado de modo incoerente e ignorante por muitos brasileiros e estrangeiros .
Os brasileiros diziam que ” também temos o direito de explorar os nossos recursos, os americanos querem é tomar a nossa Amazónia” ( este era o principal argumento dos políticos e militares) ,”não temos que ser o pulmão do mundo “, etc..
Ora, as piores consequências da devastação serão para o Brasil, como já foram para o Nordeste anteriormente…
Um Secretário de estado do Ambiente de um dos Governos Militares, Prof. Paulo Nogueira Neto, provou e publicou há muitos anos que ” Dois terços das chuvas que regam o planalto central têm origem na floresta amazónica “. Ou seja, Goiás, Minas, etc., poderão ficar como é actualmente o Nordeste. O Rio São Francisco é o exemplo do que poderá suceder aos rios amazónicos.
Os recursos agrícolas só têm interesse em algumas áreas. As outras terras, uma vez desflorestadas, duram poucos anos.
A solução passaria pelos seguintes passos, na minha opinião (peço desculpa aos brasileiros se estou a dizer redundâncias, mas há anos que venho falando nisso):
Desenvolver ainda mais o actual sistema de vigilância aérea e satélite, e um corpo de intervenção armada , pára-quedista, que possa intervir nas áreas em que estejam a acontecer desflorestamentos ilegais. E ainda bombeiros aéreos especializados.
Como todo o mundo está interessado, e os custos seriam grandes, para ter eficácia, criar um fundo internacional para apoiar essas intervenções, que seriam feitas exclusivamente por unidades sob comando brasileiro.
As organizações ecologistas deveriam apoiar as congéneres brasileiras para pagar a guardas florestais, e a voluntários, que tentassem efectuar uma vigilância por terra, a nível regional ou municipal. Há muita gente dedicada a essa causa no Brasil - começando pelos seringueiros - que mereceria ser apoiada.
Tenho muita esperança nas novas orientações do Governo do Presidente Lula, que conta com pessoas mais motivadas para essa causa assim como ele próprio .
O QUE É ISSO - Senhor Dom Duarte, li recentemente que num inquérito a mais de 700 crianças a maioria não soube identificar as mais básicas plantas, flores e animais. A culpa dessa lacuna no conhecimento das crianças é culpa dos pais que permitem que suas crianças passem muito mais tempo à frente dos computadores? Isso é um “mau presságio” para a preservação do meio ambiente ?
SENHOR DOM DUARTE: O ensino em Portugal é excessivamente teórico, virado para a preparação para a Universidade, e desligado das realidades importantes da vida. O conhecimento da natureza sofre muito com essa orientação, assim como a saúde, e principalmente o desenvolvimento do raciocínio lógico … Quem vive no campo, ou tem pais que lá viveram, ainda poderá aprender com eles, mas os pais estão cada vez mais afastados dos filhos. Talvez que com esta crise isto mude e muita gente volte para o campo .
O QUE É ISSO- A família, e o próprio conceito de família, estão neste momento a sofrer grandes ataques, muito especialmente em Portugal. Qual lhe parece ser a grande causa para esta situação e como podemos contribuir para combatê-la ?
SENHOR DOM DUARTE: Em parte isto deve-se a motivos ideológicos, mas também a interesses económicos, que preferem dominar e manipular uma massa humana sem estruturas culturais e éticas. Daí o grande ataque à agricultura familiar, às pequenas empresas familiares, e a promoção de falsas soluções: como o aborto livre em vez da ajuda às futuras mães em dificuldade, e a distribuição de preservativos aos jovens em vez da educação para a responsabilidade. Claro que o aborto economiza ao Estado muitos custos sociais, e a fabricação de preservativos é um negócio, mas não creio que sejam essas as principais motivações. Será mais a difusão de um modelo de comportamento moralmente irresponsável.
Para combater esta situação, podemos participar nas associações que defendem a Família, e levar a que os Partidos políticos sejam obrigados a negociar o nosso voto, dando lugares no Parlamento a quem represente os nossos valores. O mesmo nas associações que representam as famílias nas escolas, etc..
O QUE É ISSO- Sabemos que é um católico convicto, por isso deve ser com especial alegria e orgulho que assistiu neste mês de Abril, em Roma, à canonização do seu antepassado D.Nun’Álvares Pereira - o Beato Nuno de Santa Maria. Este grande herói português, pelas suas vitórias militares garantiu a independência de Portugal face a Espanha, e pelo seu percurso espiritual veio a ser santo. Parece-lhe que um santo e herói do sec.XIV pode ter algo a ensinar a estes nossos tempos?
SENHOR DOM DUARTE: A gente da nossa época tem tudo a aprender com ele. Por isso foi óptimo que a canonização só acontecesse agora, quando é realmente importante, e não só para os católicos. Saíram mais de 13 livros, o último é o do Prof. Jaime Nogueira Pinto e é excelente. Lê-se como um romance.
O QUE É ISSO- Um dia li uma entrevista em que citava a lindíssima frase: “O brasileiro é um português à solta”. Sendo os nossos leitores maioritariamente brasileiros e portugueses, pode deixar-lhes um breve comentário?
SENHOR DOM DUARTE: O brasileiro evoluiu a partir do português numa direcção de grande abertura afectiva e cultural que lhe permite encarar as novidades sem os preconceitos que frequentemente nos atrapalham a nós. Como sou 50 % brasileiro, pela minha Mãe - e creio que conheço bem esse magnífico País - mas ao mesmo tempo tenho uma perspectiva portuguesa e europeia, creio que posso ser um bom observador dessa realidade que sempre me fascinou.
Admiro imenso alguns intelectuais e escritores brasileiros, a começar pelo Ariano Suassuna, que em conversas no Recife, e pelos seus livros, me levou a perceber a alma tradicional brasileira. Também os meus primos me ajudaram muito. E outros escritores, como Roberto Marins, com a sua magnífica literatura com histórias do Brasil antigo, que agora os meus filhos lêem. E o ex-Deputado António Henrique Cunha Bueno, o António Carlos Noronha, etc.. Não posso citar todos os amigos que me levaram a conhecer o verdadeiro Brasil, mas quanto mais conheço mais gosto!
A minha Mulher passou a sua infância no Estado de São Paulo, e fala impecavelmente com as duas pronúncias, a paulista e a de cá…
No ano passado estivemos em Mariana, MG, a oferecer à cidade um grande quadro a óleo da Rainha Dona Mariana , mulher de Dom João V, em cuja honra a cidade foi nomeada. Estavam à espera há 300 anos, pois a Rainha tinha prometido e o quadro nunca lá chegara…
28 de Junho de 2009

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