quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

UMA PERGUNTA PERTINENTE
Perguntava-me hoje um amigo tailandês por que razão não tinha Portugal um Rei. Aduziu: "vocês, que tiveram o mais longo império, os primeiros e os últimos a abandonar as possessões que tinham em África, na América, na Ásia e na Oceania, gente tão orgulhosa do passado grandioso que tiveram, país tão pequeno que tem uma das línguas mais falados no mundo, que..., que..., que....". Assim se prolongou em perífrase demonstrativa do interesse que lhe suscita o nosso país. Fiquei encantado por assistir a tal lição até que, para terminar, deixou a seguinte observação: "bem, se países tão ricos e progressivos como o Reino Unido, a Holanda, a Dinamarca, a Noruega, a Suécia, o Luxemburgo, o Japão e até a Espanha preservaram as suas monarquias, Portugal talvez a tenha perdido porque perdeu a razão e se esqueceu do que fora". Não encontrei palavras para lhe dizer que assim fora, que um grupo insignificante de pistoleiros e gente mesquinha e medíocre nos havia morto o Rei em plena rua, que desde 1910 Portugal se tinha, primeiro mexicanizado, depois cloroformizado e agora não sabia o que fazer com o futuro. Senti vergonha, confesso, por um siamês nos olhar como uma Albânia, uma Guiné Papua ou uma República Dominicana. Mas tinha razão. Deixámos que se perdesse o arrimo fundamental da autenticidade portuguesa, substituímo-lo por generais sem batalhas, almirantes sem frota, pequenos plumitivos sem obra, agitadores e homenzinhos escolhidos por paixão partidária, impostos pelas espadas ou sorteados por grupos, camarilhas e facções. Perdemos tudo, não ganhámos nada. E não somos só nós: os gregos, os romenos, os húngaros e os búlgaros queixam-se do mesmo. É fácil destruir as monarquias, mas depois fica para todo o sempre o remorso, o vazio e o sem sentido de toda uma comunidade.
Fonte: Blogue "Combustões: Monarquia e Liberdade" - http://combustoes.blogspot.com/2009/01/uma-pergunta-pertinente.html

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