segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

PORTUGUESES DEVIAM PODER ESCOLHER ENTRE REPÚBLICA E MONARQUIA
D. Duarte considera que ilhas autónomas de países monárquicos têm muito sucesso.
O Duque de Bragança quer que a Constituição Portuguesa preveja a possibilidade dos portugueses se manifestarem sobre que tipo de chefia de Estado querem para o País. D. Duarte entende que há um contracenso na Lei Portuguesa que diz que o Povo é soberano, «pode decidir sobre o que quiser mas não pode decidir sobre que tipo de chefia de Estado tem. Tem de aceitar esta que foi imposta pelos senhores que, em 1975, fizeram a Constituição». O monarca defende, portanto, uma mudança na Constituição no sentido de alterar o Artigo 288, que refere que é «inalterável a forma republicana de Governo», para um artigo que defendesse que «seria inalterável a forma democrática de Governo». Recordando que na última revisão constitucional houve uma tentativa de mudar esse artigo, D. Duarte de Bragança espera que, havendo novo processo, esta matéria venha a ser alterada. Reconhece, no entanto, que para o efeito «tinha de haver suficiente espírito democrático no nosso parlamento». Com essa alteração e prevendo-se a possibilidade de referendar entre o regime democrático a seguir pelos portugueses, entre o republicano e o monárquico, D. Duarte de Bragança manifesta-se confiante de que muitos portugueses poderiam escolher o regresso da Monarquia.
Ilhas de países monárquicos com modelos de autonomia de sucesso
Questionado sobre qual poderia ser o actual estado do País, se fosse regido por uma monarquia, o Duque respondeu que bastaria comparar políticamente com outros países europeus que seguem o regime monárquico. «Actualmente, cerca de metade da Europa funciona em Monarquia e, portanto, é a que funciona melhor, em geral, como são os exemplos dos países escandinavos, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Reino Unido... São países que estão a funcionar bem. Há mais civismo e progresso humano. Vejo por exemplo as ilhas do Canal, Jersey e Guernsey, que têm uma situação parecida à Madeira em relação a Inglaterra, têm uma autonomia muito maior do que a Madeira, mas ninguém põe em causa a unidade do Reino Unido, como outras ilhas anexas à Holanda ou Dinamarca». A respeito das ilhas autónomas, o monarca salienta que existem modelos de autonomia dentro das monarquias que «são mais seguros e evoluídos do que na República».
Viver bem gastando menos
Na conversa que manteve com o JM, no Centro Hípico do Santo da Serra, que visitou com a esposa e filhos, na companhia do presidente da Câmara Municipal do Funchal, D. Duarte de Bragança pronunciou-se ainda sobre as suas expectativas para 2009. «Eu espero que, esta situação difícil, grave económica e financeira, seja um motivo para uma reforma total na nossa maneira de ver a vida e até das nossas isntituições. Ou seja, até agora, desde a II Guerra Mundial, temos vivido sempre com o aumento do consumo, dos gastos e do desperdício de energia e de recursos. Então em Portugal, a coisa acelerou muito. Devíamos agora passarmo-nos a desenvolver num sentido diferente; passarmos a gastar menos, mas a viver melhor. Não se precisa de gastar mais para viver melhor». Nesse sentido, o Duque de Bragança defende, por exemplo, que se use menos o automóvel particular, dando preferência aos transportes públicos, que se gaste menos energia na agricultura, nos transportes, no aquecimento das casas, nomeadamente. Considerando, por outro lado, que um dos problemas de Portugal tem a ver com a falta de aprticipação dos cidadãos na democracia, D. Duarte de Bragança fala na importância dos portugueses tentarem inverter essa postura. «A nossa democracia não é participativa, ninguém vai pedir aos deputados do parlamento que resolvam os seus problemas. Se houver uma crise grave, não vai haver uma confiança nas instituições. As forças armadas estão a ser desmobilizadas, a polícia está a ser desprestigiada... A educação tem de ser mais realista, mais prática, tem de formar civicamente as pessoas mais jovens e sobretudo, a educação tem de formar a inteligência e a lógica», sustentou ainda o monarca.
Queremos economia nacional e compramos produtos estrangeiros
Duarte de Bragança aponta ainda algumas das contradições da sociedade, defendendo que «se queremos alguma coisa temos de fazer por ela». Ou seja, continuou, «queremos a economia nacional, mas depois compramos os produtos estrangeiros. Vejo na Madeira, por exemplo, a venderem bananas da Colômbia, vejo na Madeira e no Continente, os portugueses comprarem produtos estrangeiros quando os portugueses não conseguem ser vendidos. Isto não pode ser, é um absurdo», comentou. A seu ver, o povo em geral não está a ter um «raciocínio lógico, não está a usar a inteligência e está a fazer coisas que o vai prejudicar». Para D. Duarte de Bragança, há que mudar o estado do país a vários níveis, com uma intervenção colectiva da sociedade. Um passo importante, defendeu ainda, tem a ver com o programa de ensino, que tem de ser «mais eficiente e prático. As crianças perdem muito tempo a decorarem regras e coisas teóricas que não servem rigorosamente para nada e depois não aprendem a História de Portugal nem a defesa da natureza, da saúde, a raciocinar logicamente e a aprender matérias que são úteis para a vida». De salientar que o Duque de Bragança e a família escolheram o Funchal para assistir à passagem do ano.
Texto: Paula Abreu - Revista "Olhar" - Jornal da Madeira de 04-01-2009 http://www.jornaldamadeira.pt/

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