quarta-feira, 15 de outubro de 2008

REGICÍDIO: O CRIME QUASE PERFEITO
Há cem anos o Rei D. Carlos foi assassinado no Terreiro do Paço. Com mais de seis livros a assinalar a data, entre uma biografia do Rei, do historiador Rui Ramos, o atentado explicado às crianças, e uma análise da imprensa estrangeira da época, destacamos um que se centra noutra parte da história: aquela que se sucedeu ao crime e que envolveu a Justiça portuguesa durante dois anos. Uma investigação que coligiu mais de cinco mil peças, entre testemunhos, provas e indícios e que a uma semana da revolução, que daria lugar à I República, foi mandada arquivar pelo então presidente do Conselho, Afonso Costa. Não viu a barra do tribunal, mas também não voltou a aparecer num registo que deixe memória. Quando passam 100 anos sobre o homicídio do Rei e do seu filho D. Luís Filipe, um crime sem culpados ou detenções, «O Dossier Regicídio - o Processo Desaparecido», um livro redigido por especialistas em balística, medicina legal, historiadores, e encabeçado por Mendo Castro Henriques, traz a lume documentos que suportam a tese de que o extravio deste processo foi propositado. Sobretudo um documento em que Afonso Costa pede o arquivamento do processo. Senão, «seria a desgraça dos dissidentes», terá afirmado, referindo-se aos monárquicos dissidentes que o apoiavam e que serão fundamentais na instauração da I República.
Conspiração ou acto isolado
Não há hoje grandes dúvidas da natureza do regicídio. Mendo Castro Henriques, em entrevista ao PortugalDiário não tem dúvidas da conjura contra o Rei.
Entre 1880 e 1914, na Europa e nos EUA, há mais 400 atentados contra chefes de Estado, governantes e reis, numa onda de violência que culminou no atentado que levará à I Guerra Mundial. Se muitos foram, de facto, actos de indivíduos isolados, que participavam do ambiente anarquista, Buíça e Costa, os regicidas mais conhecidos, que perderam a vida a matar o Rei, não foram os únicos que preparam o atentado.
Mendo Castro Henriques aponta o dedo aos sectores mais radicais do Partido Republicano que, depois de vários desaires eleitorais, decidem passar para a via revolucionária, encontrando o seu exército na Carbonária, e com a ajuda de algumas lojas maçónicas, adquirem armas no estrangeiro e financiamento nos dissidentes monárquicos.
Ultrapassando a história kitsch das conspirações, o «Dossier Regicídio - o Processo Desaparecido» concentra-se no processo judicial instaurado a 7 de Fevereiro de 1908, concluído a 27 de Setembro de 1910, mas desaparecido após a proclamação da I República.
São tratados relatórios, cartas dos juízos e informadores do Juízo de Instrução Criminal, uma conspiração de que a secreta portuguesa estava também informada, explica Mendo Castro Henriques. As ameaças de atentados não impediram, porém, que o Rei desse «uma prova de destemor», dispensasse o carro fechado e seguisse no landau, a passo, sem capota.
Este é um enigma com inúmeras teses que tem apaixonado historiadores ao longo do último século e que na data do centenário ganha nova vida neste centenário com iniciativas, conferências, exposições e visitas guiadas.
Os historiadores querem agora lançar os dados sobre as inúmeras teses, tentado fazer agora o julgamento que não se realizou há 100 anos.
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